sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Frases de final de ano

Eu creio na fé alheia.
Em uma confraternização de Natal em resposta a pergunta sobre qual seria meu credo

Minhas idéias mais genias são as que esqueci.
Resposta sobre o que pretendo fazer no próximo ano.



quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

"A saudade é um morcego cego que falhou o fruto e mordeu a noite"
Mia Couto, O outro pé da Sereia

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Trechos de um conto

“Hoje gostaria apenas de deixar de existir. Observe que não quero a morte com seus funerais e lutos. Desejo a inexistência. Desejo a desintegração, não a decomposição. O corpo se desmaterializando até apagar o último vestígio, a consciência ou qualquer outra coisa que se constitua para além do perceptível pelos sentidos. Não se trata de inconsciência, pois nesse caso pode-se admitir a possibilidade de um passado consciente. Desejo a mais pura ausência. Aquela que não se sente, por nunca ter sido conhecida como presença. Talvez um ou outro perceba, mas logo será como um sonho. Até que isso também se dissolva. – Sumiu no ar. – O quê? – Não sei. Foi só uma sensação. Passou. Meu único grande desejo. Nada de cinzas. Sem pó para ao pó retornar. Sem transformação. Sem Samsara. Sem medo, desespero, negação, isolamento, raiva, barganha, depressão, aceitação ou esperança. Um ir que volte apagando o vir até o momento presente e concretize um nunca ter existido”.
Era essa mesma sensação que tivera ainda jovem. Votava da faculdade e precisava andar alguns quilômetros do ponto de ônibus até sua casa. Nascera em uma cidade de clima quente, mas nunca se acostumara com o calor. Sua pele, muito clara e fina, ressentia-se do sol e da secura que se instalava na região ao longo de seis meses. Quase não transpirava. Sua face ficava vermelha, a nuca e o pescoço empolados.
Não era bonita nem feia. Cabelos lisos e finos. Traços ordinários em um rosto oval. Uma vez lera que era esse o formato de rosto comum às históricas amantes e concubinas. Ficara com isso na memória, embora não acreditasse que a História se desse ao trabalho de registrar alguma importante amante.
Sentia vontade de sentar-se no meio-fio e deixar de existir. Derreteria até ser uma poça que depois evaporaria. Sentia um calor ardido, como se uma lâmina muito fina penetrasse em sua carne. Não havia muitas árvores no caminho.
Lembrava-se da horrorosa aula de piano. Odiava, em especial, as aulas de improvisação. Não dominava as regras da harmonia tonal. Não conhecia nada de contraponto e a percepção musical parecia-lhe ainda obra de um espírito santo em que tinha dúvidas se acreditava. Pensava na figura patética, vista em um livro de história da música ocidental, de uma pomba ao lado do ouvido de um Papa. Amava especialmente as aulas de história e planejava aprofundar os estudos sobre drama litúrgico.
Lembrou-se novamente do exercício que deveria ter preparado para a Dra. Professora Pianista que lhe encomendara um improviso sobre alguns temas insossos.
Alguns a tinham por esnobe, outros por tímida, a maioria não percebia sua existência, o que era sempre um alívio. Sentia-se sempre deslocada e procurava falar o mínimo possível. Tinha uma forte impressão de que quase tudo que falava era absolutamente desnecessário ou era uma grande tolice e, nesse caso, igualmente desnecessário. Com o tempo aprendeu um pouco sobre teatro. O que tornou possível conversar com estranhos. Imaginava um roteiro e conseguia controlar a vontade imensa de desaparecer.
Ao sair da avenida, virava em um beco fresco. Já não se lembrava mais de deixar de existir. Um dia dera um esplendido buquê à senhora que cuidava das plantas na pequena chácara da esquina. Desde então, ela lhe sorria diariamente, com seus poucos dentes e os lábios murchos, um sorriso franco e amigo. Ganhara as flores na faculdade após as aulas da manhã. O rapaz a esperara durante horas na esperança de reatar o namoro. Sentiu um cansaço imenso ao vê-lo. Uma descrença que lhe parecia quase tão antiga quanto a areia do cerrado.
Aquele trecho do bairro tinha sido invadido. Originalmente, deveria fazer parte do cinturão verde da cidade. As famílias vindas do interior ou de outras regiões do país foram se ajeitando por lá enquanto não chegava a água encanada, o esgoto, o asfalto, a iluminação pública. Depois que tudo chegou, vieram também os impostos e as taxas. A área foi regulamentada, mas seu traçado era irregular devido aos lotes de diferentes tamanhos e formatos entre becos e vielas. E os mais pobres foram para mais distante. E os menos pobres abriram pequenos botecos, armazéns, oficinas de conserto de móveis, lojinhas de artesanato que depois foram comprados por empresas maiores, até que não se encontrasse mais muitos dos antigos moradores.
...
Andou fazendo uma coisa e outra. Era arquiteto de formação, mas passou boa parte de sua vida na administração pública. A depressão o assombrou uma meia dúzia de vezes. Estava em seu terceiro casamento e no quinto herdeiro. Conheceu a guria vendendo ingressos de festas em um boteco tradicional da cidade. Calça preta, camiseta cavada preta, botas pretas de salto largo, maquiagem escura, cabelos curtos com gel, ingressos em uma mão e uma quase vazia garrafa de conhaque na outra. Bêbada, continuava ereta e com o olhar arrogante. Sentou a seu lado no banco comprido de madeira. Puxou conversa. Conhecia um e outro à mesa. Desfez-se dos ingressos e despediu-se ao mesmo tempo em que bebia mais um gole do conhaque.
Ele a viu no parque alguns dias depois. Demorou a reconhecer. Lia sentada como se meditasse. O cabelo sem gel era tão fino e solto que jamais se despenteava. O vestido verde de pequenas flores exageradamente largo, comprido e rodado criava a impressão de que seu pescoço e braços saiam da tenda de um pequeno circo. Sorriu discretamente pensando que seria bom brincar naquela tenda. Sem nenhum aviso prévio olhou para ele e soltou: “Palhaço”. Transaram no final de semana seguinte depois de uma festa trance, várias doses de tequila e latas de cerveja.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

33 espetáculos de 2007

Já que o tema foi lançado, acato à minha maneira. Apesar de não ser muito de filmes (vi alguns da lista da nossa amiga) e nem de listas (sempre deixo coisas importantes de fora), a imagem em movimento é de meu interesse. Quando efêmera, então, aí é que me derramo. Apresento-lhes, portanto, a segunda lista do quintal: espetáculos que vi em 2007. Não todos, não necessariamente os melhores. Apenas os que eu consegui lembrar. A grande maioria vista em Brasília (yes, nós temos teatro!) e alguns de grupos locais (yes, nós fazemos teatro!). Feito o protesto, a homenagem da lista vai ao grupo "Théâtre du Soleil" que, com 43 anos de vida (e resistência... também é difícil fazer teatro na frança!), pisou pela primeira vez em solo latino-americano nesse ano. Eu tive a felicidade de viver esse momento histórico (espetáculo Les Éphémères) e de fazer uma oficina com um dos atores mais antigos da trupe. Tirei essa foto antes do espetáculo, atores se preparando. O camarim fica aberto e vísivel ao público. Um espetáculo a parte!
Outras coisas maravilhosas também compõem a lista (Abril, Adubo, BR3, ...). Algumas outras, confesso, que foram difícies de ficar até o fim. Uns eu assisti apenas uma vez, outros vi por 2, 3 ou 4 vezes.

Entao, lá vai...

Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo*
Abril*
Les Éphémères
BR3
Eu Odeio Kombi
Chorinho
Quiprocó
Eutro*
Prêt-à-Porter 8
Pequenos Milagres
A Pedra do Reino
Muito Barulho por Quase Nada
Isadora.Orb*
História de Amor (Últimos Capítulos)
Frátria Amada Brasil
666
Kagemi
Matar el 9
Diário do Maldito*
Traços ou Quando os Alicerces Vergam*
Por Debaixo do Tapete*
(Des)esperar*
A Freguesia da Fênix
Agora e na Hora de Nossa Hora
Tasogare
Reconco
O Homem Bomba
A Julieta e o Romeu
Homemúsica
Esse Glauber
The Other Here
Houdini’s Suitcase
Os Demônios*

* Produções de artistas que moram em Brasília ou de brasilienses seqüestrados pelo "grande" eixo.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

30 filmes de 2007


Fazer listas é divertido, vai...
Aqui vai uma de 30 filmes que me lembro de ter assistido nesse ano (ou no finzinho do ano passado).




300
A pele
A dama na água
Alpha dog
Babel
Baixio das bestas
Borat
Cartola
Diamante de sangue
Hannibal – A origem do mal
Harry Potter e a Ordem da Fênix
Homem Aranha 3
Mais estranho que a ficção
Número 23
O amor não tira férias
O ano em que meus pais sairam de férias
O céu de Suely
O cheiro do ralo
O hospedeiro
O passado
O último rei da Escócia
Os Simpsons – o filme
Pecados Íntimos
Perfume – A história de um assassino
Princesas
Ratatouille
Saneamento básico
Superbad – É hoje
Tropa de elite
Um beijo a mais


Desses, os que mais gostei foram: 300, Babel, Diamante de sangue, Mais estranho que a ficção, O ano em que meus pais sairam de férias, O céu de Suely, O cheiro do ralo, O último rei da Escócia, Pecados íntimos, Saneamento básico e... Tropa de elite.
Já os piores... acho melhor não destacar, afinal, não quero influenciar os amiguinhos que não tenham visto algum deles.
Se alguém tiver títulos a acrescentar, fica a vontade.


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

São Sebastião

São Sebastião, crivado, nublai minha visão
(“Derradeira Estação”, de Chico Buarque)


Na sexta-feira, fui lá. Estava já um pouco tonta de cerveja, quando ofereci carona a Elisa, empregada doméstica da amiga em cuja casa eu estava. Ela, sob protestos da patroa, que a chama abusada por se dar a liberdades com visitas, sempre me convidava para o forró a que costuma ir, em São Sebastião, cidade satélite do Distrito Federal, uma das mais distantes do Plano Piloto. Alguns chamam de favela.

Eu nunca havia ido a São Sebastião, só ouvia falar. Moradora recente da capital do país, recebia advertências sobre cidades satélites e seus habitantes. Algumas falas davam conta de que, ao pôr o pé num desses lugares, um incauto morre assassinado. Ou de susto.

Na sexta, fui. Levar Elisa. O forró, uma varanda de bar transformada em galpão, o lugar apinhado. Elisa e eu bebendo cerveja. Alguns caras me convidavam para dançar, não sei dançar, recusava. A certa altura, deixei Elisa encostada ao balcão, saí para fumar. Um homem alto, simpático, de longe, sorriu pra mim, chamou-me ao baile. Achei-o bonito. Quarenta anos, forte, moreno, cabelos crespos, curtos, agrisalhando-se. Barba por fazer, sorriso doce, meio infantil. Dançamos, fomos para o meio do salão. Aos poucos, encostando cada vez mais os corpos, apertávamo-nos.

Daí para começarmos a nos esfregar não demorou. Eu sentia o cara duro contra minha pele; já alta de cerveja, achava graça, esfregava-me mais, ria. Beijávamo-nos desbragadamente, lambuzadamente, em plena pista. Suas mãos já me acariciavam os seios, não muito discretamente, quando ele me convidou para ir a sua casa. Disse que depois me deixaria no ponto de ônibus. Não sabia que eu estava de carro. Quando saímos, estranhou o veículo, perguntou de onde eu era, quem era. Eu disse. Comprei cerveja em lata, levamos.

A casa – um quarto, nos fundos de um cortiço – teve a porta aberta de um tranco. O chão, sem piso, recebia dois colchões. Um pequeno, curto e fino, de no máximo dez centímetros de espessura, tinha um cobertor dobrado e um travesseiro sujo por sobre. O outro, maior, de casal, mas tão delgado quanto o primeiro, abrigava algumas roupas velhas, uns trapos que não consegui identificar.

Ele se sentou sobre algo que não era mesa nem banco, uma tábua colocada em cima de uns tijolos, ao lado de uma pia com algumas panelas velhas, vazias e sujas. Abriu uma lata de cerveja, chamou-me para seu lado. Vem cá, minha branquinha. Sentei-me, agarrou-me. Retraí-me. Comecei a sentir cheiros, ter nojo. Assustei-me. Ele não se deu conta, continuava a me bolinar, beijava-me o pescoço, apertava-me os seios, enfiava a mão entre minhas coxas.

Não conseguia me imaginar sobre aquele colchão, aquilo começou a me dar engulhos. Irritava-me comigo mesma, pequeno-burguesa, idiota, tem medo de miséria, você, que adora fazer discurso de classe? Teoriza agora sobre a vida da pobreza, imbecil, teoriza. Nojenta. Hipócrita.

Iniciei um jogo de esquiva, negando o corpo, desviando-me das mãos. Ele não gostou, agarrou-me o cabelo, segurando firme minha cabeça, arqueada para trás. Esfregou a barba no meu pescoço e perguntou se eu ia “sair fora”. Débil, pedi que parasse. Ele puxou mais meu cabelo, falou que eu estava “tirando” com ele, uma babaquinha do plano piloto não vai me deixar na mão, vocês, do lado de lá, pensam que nós somos inferiores, eu não sou, sei o que quero, você pensou que ia ter uma coisa e encontrou outra, pensou que ia ter o quê, princesinha, loirinha gostosa, com esse coxão, vocês, dos ministérios, têm uma vida de maconha, de cocaína, de sacanagem, pensam que eu não sei, dão uma de bons, mas vivem na farra, você sabe o que vai levar agora.

Com uma das mãos ocupada em me segurar pelos cabelos, usava a outra para me esfregar os peitos, as coxas, a vagina. Apertava-me inteira. E continuava a falar, beijando-me, lambendo-me o pescoço, a boca, o queixo. Levantou-se de um golpe, carregando-me junto, caímos no colchão maior, sobre as roupas. Ele rapidamente se encostou todo em mim, senti que estava duro e era enorme. Assustei-me com o tamanho daquele pênis, choraminguei. Não me deu tempo sequer para que me ajeitasse sobre os trapos, virou-me de lado, agarrou-me com toda a força e pôs todo seu peso sobre mim, não imaginei que fosse tão forte. Impossível desvencilhar-me. Meu vestido, que já era solto, curto, fácil de tirar, foi praticamente arrancado. Assim, de lado, ele me dobrou as pernas, agarrou-me mais forte, amassando meus seios, machucando os mamilos.

Entrou em mim de uma vez, não no ânus, na vagina, mesmo, mas por trás, com a força que deus lhe deu. Eu não estava lubrificada, aquele pau enorme meteu-se dentro de mim, rasgando-me, queimando. Gritei como nunca havia gritado em toda a minha vida. Ele me tapou a boca com a mão, falava fica quieta, vagabunda escandalosa; mordia minha nuca, minhas orelhas, minhas costas, e dava estocadas, mais, mais, mais. Com uma dor jamais sentida, eu gemia e rebolava os quadris contra aquele cacete imenso me comendo as entranhas.

Quando gozou, era um animal, parecia sem controle, sem razão, amassava-me tanto, debatia-se loucamente, pesava tanto sobre meu corpo, com os braços em torno do meu pescoço, apertando-o, que pensei fosse me estrangular, eu sufocava. Imaginei as manchetes no dia seguinte, servidora federal assassinada na cidade satélite.

Ele ainda me fodeu mais três vezes; eu com dor, com nojo, com medo, gozei em todas elas.

Não volto mais a São Sebastião. Vou-me embora daqui.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Enquete



Vocês acham que a Ana deve postar aqui no quintal o conto erótico (que, na verdade, é pornográfico... uma putaria mesmo) que está no blog dela?


sexta-feira, 26 de outubro de 2007


Olhos céleres se moviam no escuro. Eram estranhas aquelas ruas, mas ele seguia o caminho indicado pela garçonete sem se desviar. Devagar, ia de viela em viela até encontrar a sua. Ou melhor, a dela. Parou em frente à porta com o número 113 – o 3 caído parecendo um € o fez sorrir. Ouviu uma música na voz de Elis Regina vindo da entrada ao lado; uma música que tocou no primeiro e único encontro deles. Se já não estivesse pensando bobagem, começaria a pensar naquele momento. Cantarolando “quando olhaste bem nos olhos meus...” bateu na porta.

Ela abriu e fez o mesmo gesto que o encantou quando se conheceram – um meneio de pescoço que nunca vira igual. Um sinal para que entrasse. Ele demorou a reagir, lembrando daquele dia, da cordialidade daquela boca que agora, fechada, lhe parecia tão indiferente. Sentou ao lado dela, observando que os lençóis eram os mesmos, embora a cama e o quarto não fossem.

Quando foi perguntado sobre o que estava fazendo ali, tentou agarrá-la pela cintura e ouviu um claro e intenso não. Como não? Ela não podia dizer não. Não podia lhe dizer não. Ele tinha sentido o calor do beijo dela, do corpo dela, sabia que ela havia gostado. Assinale-se aqui que naquele mesmo dia ele foi tocado da porta para fora, mas isso foi depois. Depois do beijo, do sexo, do olhar. Como agora lhe dizia não?

A explicação dela foi rápida, ele não teve argumentos para retrucar e foi embora.
De volta ao bar, a garçonete lhe perguntou:

- Encontrou a Cigana?

- Encontrei sim.

- E aí? Resolveu a questão?

- Ah... ... Me vê um conhaque aí, vai.

- Tem dinheiro? Não faço fiado aqui não.

- Engraçado, já ouvi isso hoje...


sábado, 20 de outubro de 2007

Um presentinho

Em pleno Paraíso, estação de metrô paulistana, deparo-me com uma máquina de presentes. Dessas que chegaram ao Brasil com refrigerantes, passaram para salgadinhos e ganharam até livros na maior cidade da américa latina. Pois é, agora estão carregadass de brincos e colares. Presente express para quem não tem tempo de dar um pulinho na vinte e cinco de março. Por alguns instantes pensei se não era o princípio de extinção dos ambulantes. Para minha tranqüilidade foi apenas um alarme falso. São Paulo continuava a mesma. Lugar onde camelos e camelôs encontram seus espaços, ao menos por enquanto.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Concordam com alguém?

A monogamia é natural?



Não há como questionar se a monogamia é ou não natural. Não é. Ao mesmo tempo, tampouco há razão para concluir que o adultério é algo bom ou inevitável. Animais, muito provavelmente, não podem escolher agir contra 'o que vem naturalmente'. Já os homens podem.

David P. Barash (Professor de Psicologia da Universidade de Washington e co-autor do livro O mito da monogamia).



Os povos, ao saírem da barbárie rumo à civilização e ao progresso, abandonaram a poligamia e estabeleceram a família monogâmica. A instituição do divórcio vai na contramão da história, retrocendendo da civilização à barbárie.

Edição de janeiro de 2001 da revista brasileira Catolicismo.



Apesar da força moral da tradição judaico-cristã e de a Justiça ter procurado purificar o pênis e restringir sua semente à instituição sagrada do matrimônio, ele não é por natureza um órgão monógamo. Desconhece códigos morais, foi projetado pela natureza para o esbanjamento, adora a variedade, e nada, exceto a castração, eliminará seu pendor para a prostituição, a fornicação, o adultério ou a pornografia.

Gay Talese (Jornalista americano e autor do livro A mulher do próximo, clássico sobre a sexualidade americana antes da era AIDS)



Da coluna “Pergunta sem resposta” da edição desse mês da Superinteressante.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

BONECA DE CROCHÊ

Um homem e uma mulher estavam casados por mais de 60 anos. Eles tinham compartilhado tudo um com o outro. Eles tinham conversado sobre tudo. Eles não tinham segredo entre eles afora uma caixa de sapato que a mulher guardava em cima de um armário e tinha avisado ao marido que nunca abrisse aquela caixa e nem perguntasse o que ela havia nela. Assim, por todos aqueles anos ele nunca nem pensou sobre o que estaria naquela caixa de sapato.
Mas um dia a velhinha ficou muito doente e o médico falou que ela não sobreviveria. Visto isso, o velhinho tirou a caixa de cima do armário e a levou pra perto da cama da mulher. Ela concordou que era a hora dele saber o que havia naquela caixa. Quando ele abriu a tal caixa, viu 2 bonecas de crochê e um pacote de dinheiro que totalizava 95 mil dólares. Ele perguntou a ela o que aquilo significava, ela explicou:

- "Quando nós nos casamos minha avó me disse que o segredo de um casamento feliz é nunca brigar por nada. E se alguma vez eu ficasse com raiva de você que eu ficasse quieta e fizesse uma boneca de crochê."

O velhinho ficou tão emocionado que teve que conter as lágrimas enquanto pensava: "Somente 2 bonecas preciosas estavam na caixa. Ela ficou com raiva de mim somente 2 vezes por todos esses anos de vida e amor".

- "Querida, ele falou, você me explicou sobre as bonecas mas e esse dinheiro todo de onde veio"?

- "Ah, ela disse, esse é o dinheiro que eu fiz com a venda das bonecas".

"PRECE PARA AS MULHERES (REZAR SEMPRE ANTES DE DORMIR)"
"Querido Senhor, eu rezo para adquirir sabedoria para entender meu (marido, namorado, amante), amor para perdoá-lo e paciência para agüentar seu mau humor. Sim, Senhor! Porque se eu rezar pra ter forças, eu o mato de tanto bater, porque eu não sei fazer crochê!!!!!"

segunda-feira, 8 de outubro de 2007


criança diz coisas...

É claro que ninguém do ciclo 5 sabia o que era o tal do manjericão fresco, indicado na lista de igredientes para a aula de culinária. Então Michelle, a profa, explicou bem devagarinho, como convém numa turma de 5 a 6 anos:

- Fresco é quando vem em galhos, como se tivesse sido colhido naquela hora.

Beleza, todos foram escrever na lista o item que escolheram para trazer no dia seguinte. Até que alguém se lembrou de abrir a porta para amenizar o calor e entrou uma brisa. Aí Diana disparou:

- Ah, que bom esse vento entrando assim em galhos, né Michelle?

aprendi uma lição

em cadeira de direção
cabeça quente e pavio curto
pode provocar ejeção

anatômicos

Aviso:
encontra-se repousando no buraco do meu ouvido
um sussuro antes pelas ruas e dias perseguido

Atenção:
saiu sózinha
pela esquina do meu olho
uma vista
sedutora

domingo, 30 de setembro de 2007

sábado, 29 de setembro de 2007

Lídia foi para Natal.
Ana vai para Natal.
Quando chegar Natal a gente se encontra?

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

terça-feira, 25 de setembro de 2007

ahá!

Já sei como ligar machos, ostras e crocodilos... Leiam abaixo.

AFRODISÍACOS - ORIGEM

Derivado do grego aphrodisiakós, o termo “afrodisíaco” data de aproximadamente 5.000 anos e provém do nome Afrodite – a deusa do amor e da beleza na mitologia grega – também conhecida por Vênus, (em latim) filha de Zeus e Dione. De acordo com o mito, Afrodite nasceu na concha de uma ostra quando Cronos matou e castrou seu pai, jogando os testículos no oceano.

Eram conhecidos na Antigüidade, nas culturas egípcia, grega e romana. As referências revelam que o mais antigo afrodisíaco era um pó de pênis de crocodilo seco, recomendado pelos egípcios.

Os afrodisíacos são drogas, substâncias químicas ou odores aos quais é atribuída a ação de aumentar o desejo e manter a excitação sexual em homens e mulheres. Não há fundamentação científica quanto à eficácia da maioria das substâncias afrodisíacas na resposta sexual adequada dos indivíduos. O que se conhece até o momento é que algumas substâncias agem sobre os sistemas nervoso central e circulatório e que podem resultar, como efeito secundário, na melhoria do desempenho sexual. Há substâncias, porém, que causam efeitos danosos ao organismo como a cantárida ou "mosca espanhola", um besouro do qual se faz um pó, que provoca irritação urogenital associada a maior afluxo de sangue no pênis, levando o usuário a ter sensação de maior tempo de ereção.

.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

E se eu tivesse

O rosto lindo da Mariana
A sensualidade da Valéria
A vivacidade da Lídia
A exuberância da Raquel
A inteligência da Piti

A alegria da Jaana
A meiguice da Silvinha
O charme da Gabi
O dengo da Teli
O sorriso da Carla
A sofisticação da Caetana
A doçura da Milena
O marotismo da outra Milena?

Seria uma mulher perfeita.

Imodesta, tenho um pouco de cada

Minhas mulheres de Brasília

Porque roubei

E vou levar comigo para sempre

(E tudo isso têm todas elas)

Dedicado a Luís, Marco, Felipe, Lúcio, Públio, Alex e Amauri, meus homens de Brasília.


roubando a vizinha

Do blog da Léo e do Museu da Língua Portuguesa

domingo, 23 de setembro de 2007

Trovas da menina

Minha natureza nasceu no cerrado
e essa segunda natureza, a externa, moldou meu sentir
que se fez de flores tímidas, solitárias, escondidas no capim rasteiro.

De árvores baixas e retorcidas, de casca grossa, rude, de folhas ásperas
maltratadas pela poeira e calor violento.
De céu azul e luz intensa de um horizonte profundo.
De cascalho grosseiro e terra vermelha.
Metade seca, em tristes cinzas e ocres.
Metade águas, em alegrias tímidas dos muitos verdes.
Meu sentir frágil tona-se deserto pelo descuido.
Esvaziado de suas matas, riachos e campos,
torna-se árido,
torna-se pó que o vento espalha.
Partículas de saudade de um amor a nascer.

Minha alma de criança

Já do corredor

é possível ver a cama,

mas antes disso

o imenso sorriso da boneca.

Sorriso em arco.

Ocupando quase toda a cara redonda.

E do corredor nasce outro sorriso

em arco,

ocupando a curvatura da Terra.

No final do arco tem um tesouro

de coisas simples que enternecem a vida.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

La Edad del Cielo


La edad del cielo - Jorge Drexler
(Para David Broza)

No somos mas
Que una gota de luz,
una estrella fugaz,
una chispa, tan sólo,
en la edad del cielo.

No somos lo
que quisieramos ser,
solo un breve latir
en un silencio antiguo
con la edad del cielo.

Calma, todo está en calma,
deja que el beso dure,
deja que el tiempo cure,
deja que el alma
tenga la misma edad
que la edad del cielo...

No somos más
que un puñado de mar,
una broma de Dios,
un capricho del sol
del jardin del cielo.

No damos pie
entre tanto tic tac,
entre tanto Big Bang,
sólo un grano de sal
en el mar del cielo.

Calma,
todo está en calma,
deja que el beso dure,
deja que el tiempo cure,
deja que el alma
tenga la misma edad
que la edad del cielo...


segunda-feira, 10 de setembro de 2007

chuck norris????????/


São várias coisas

fragmentos de memória para recuperar os planos perdidos, os sonhos que nem foram vividos; fragmentos de mentiras que foram tão cridas que viraram verdades ou viraram feridas; imagens de sensações vividas jamais ditas ou que dissolveram a pronúncia no mar de mágoas, na alma agitada, angustiada com o que foi e o que não foi feito para ser melhor a escolha entre a vida e a morte, a vida em vida. A morte em vida, quem a escolhe?
Aqui só temos os escolhidos, os indesejados tiveram seus dejetos recolhidos.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Aurora

Interior de Mato Grosso, último ano do século XIX, a pequena e recém-fundada cidade de Campo Grande, antes um entreposto comercial, recebia um casal de estrangeiros que vivia numa fazenda próxima e visitava o povoado. Compravam víveres e roupas de criança.

As pessoas da região não compreendiam exatamente qual sua nacionalidade e diziam que ele era “inglês-escocês”, sem saber explicar muito bem o que era isso. As fotos que os familiares herdaram mostravam um homem muito claro, loiro, de olhos azuis. Pelo sobrenome, Estelharde, trocando o lh por ll, podia ser catalão, mas, àquela época, não se podia fiar na origem dos nomes. A esposa, paraguaia, Dona Petrona, tez morena, olhos escuros, o cabelo preto muito liso, sempre arrumado num coque baixo.

Alguns meses depois da visita, num amanhecer de 1900, nascia Aurora. Tinha a pele e os olhos claros do pai; os cabelos lisos da mãe. Já na adolescência se mostrava alta, esguia, de uma languidez típica das meninas da época. As fotos que restaram revelavam uma moça frágil, de semblante cansado. Ou era o modo de retratar gente naquele tempo.

Aurora chegou a conhecer ex-escravos, imagine, dizia ela, naquele fim de mundo de meu deus, aquela fazenda perdida no meio do nada, no meio do mato, tinha coisa que até deus duvida. Seu Estelharde morrera numa emboscada por conta de briga de terra, quando ela estava apenas com um ano. Foi a única filha do casal.

Dona Petrona casou-se novamente, desta vez com um paraguaio, e teve outros filhos. O paraguaio gostava de jogo. Perdeu todos os bens do inglês, contava Aurora. A família ficou pobre, sobraram a sede da fazenda, fama e pose de fazendeiros. Aurora, rejeitada pelo padrasto, maltratada pela mãe, que a colocava sobre um formigueiro quando, bebê, sujava fraldas. Aurora apanhou durante toda a infância. Por sujar uma roupa, por quebrar algum objeto. Aurora não foi à escola, Aurora era analfabeta.

Jovem, passava e engomava a roupa de baile das irmãs. Aurora, nome de princesa nos contos de fada, não podia ir. Passava um, às vezes, dois dias inteiros na arrumação das vestes das outras. O padrasto não gostava dela, era branca e “mole” demais, como ele dizia. “Filha do gringo”. Era mais velha, tinha de cuidar dos afazeres domésticos e dos meninos menores, baile não. Aurora olhava, admirada, as moças mais novas, morenas como a mãe e lindas nos vestidos bonitos, saírem para as festas do povoado.

Aurora lavava as roupas da família no rio. Seguia para o curso d’água que havia nos fundos da sede da fazenda com trouxas, bacias, sabão de cinza. Ensaboava a roupa, batia-a nas pedras. Enxaguava na água limpa e fresca naquelas tardes tão quentes de verão mato-grossense. Pra lá do rio, homens trabalhavam. Lavradores pobres da região, empregados de algum fazendeiro. De longe, o moço bonito olhava Aurora. Ela não sabia seu nome, era mais um deles. Estava sempre sujo de terra, mas os olhos castanhos “cor de mel”, como lembrava Aurora, brilhavam quando o sol batia mais forte.

Às vezes, aparecia na fazenda um mascate, o turco, trazendo coisas lindas de moça ver. Colares de vidro, tecidos bordados, seda, seda de verdade. E as rendas? Ele tinha perfumes, pó-de-arroz e carmim. O turco, na verdade um sírio muçulmano de nome esquisito, era baixo, moreno, tinha grossos bigodes pretos. Para fazer os papéis da imigração, havia trocado Hammer Mahmud Farrah por José Pedro Salomão. Encantou-se com Aurora. Moça bonita. Dona Petrona ficou contente. Queria porque queria casar Aurora com o turco. Até que enfim essa menina vai servir para alguma coisa. Pelo menos vai-se casar com homem que pode dar vida boa a ela.

Mas Aurora nem via o turco. Ia para o rio feliz, a roupa ficava mais limpa, mais fresca, mesmo no calor. O moço bonito sempre olhando, Aurora um dia arriscou um sorriso. Moço respondeu. A irmã mais nova percebeu os olhares, correu pra mãe e contou que Aurora olhava e sorria. Aurora levou bronca, foi proibida de ir ao rio. Ficar sem carregar a trouxa, ensaboar, bater e enxaguar a roupa não era um prêmio. Castigo de não ver o moço.

E o turco aparecia, com fazendas umas mais bonitas do que as outras. Cada renda linda. Cada perfume cheiroso. A maleta de couro escovado, limpinha, sempre cheia de novidades. O turco arrumado num terno escuro, elegante, o bigode lustroso. Eita, até que esse turco fica bonito, assim todo almofadinha, dizia Dona Petrona. Essa menina tem sorte, o turco está alinhado.

Depois de alguns dias, Aurora pôde voltar ao rio. Do outro lado, o moço lá, trabalhando, as roupas maltrapilhas, as mãos grossas e sujas como sempre. Os olhos cor de mel logo perceberam Aurora. Moço, esperando um afastamento da irmã, ousado, chegou perto de Aurora. Vamos fugir, Aurora. Vamos pra cidade bonita, eu e você, amanhã cedo. Foge comigo, Aurora.

À noite, Aurora em casa, Dona Petrona e as irmãs incentivavam. Aurora, casa com o turco. Aurora sabia que lá no campo o moço se preparava para a viagem. Aurora sonhou com a cidade, com o moço. Aurora não dormiu direito. Você vai ter vestidos lindos, tão coloridos, Aurora. Vai ser a moça mais cheirosa das redondezas. Seu padrasto já está tratando do casamento com o turco, Aurora.

Aurora não teve coragem. No dia seguinte, Aurora se levantou como todas as manhãs. No rio, enquanto batia roupa nas pedras, seus olhos azuis procuravam entre os homens do campo a cor de mel dos olhos do moço bonito. Não estava mais lá.

O rapaz nunca mais voltou. De que adiantava se voltasse? Não tinha nem nome. Muitos anos depois, segunda metade do século XX, numa tarde quente de Campo Grande, o pequeno povoado já transformado em cidade, Aurora Estelharde Salomão contava o episódio à neta, uma gordinha metida, de cabelo espaventado. A menina prometeu: Voróra, um dia vou escrever a história do moço bonito, pra todo mundo saber a belezura daqueles olhos castanhos. Aurora riu.

Da série “Mulheres da minha vida”, que ainda não escrevi, também conhecida como “A paladina* do feminismo e sua luta contra o monstro do mito do amor romântico, round perdido nº 1”.

* Vocês sabem que essa flexão de gênero não é registrada?Ah, Saramago, obrigada por me lembrar de que "essas palavras não tinham feminino em hebraico..."

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Teremos repeteco em 2007?


Depois do World Jump Day, inventaram, no ano passado, o Global Orgasm. Não é incrível a capacidade que a gente tem de desenvolver bobagens? Um dia cheio de orgasmos, globalmente falando, e o mundo não será o mesmo. Vejam o que disse o mentor da idéia, Paul Refell:

"A idéia é que, dia 22 de Dezembro, seja criada a maior onda de energia humana de sempre. Para tal, um elevado número de pessoas deverá ter relações sexuais, originando um orgasmo em simultâneo. Nessa altura, os pensamentos e toda a energia devem ser canalizados num único sentido: a paz mundial e o fim dos vários tipos de violência".

O cara afirmou que o objetivo "é transformar a energia sexual das pessoas em algo mais positivo" - Agora, imaginem... o cidadão está lá gozando e começa a pensar na guerra do Iraque, no Bush, no Bin Laden, no Sadam Hussein (ah, não, esse já foi), nas armas atômicas dos EUA e da Coréia do Norte, no crime organizado do Rio de Janeiro, no crime organizado de Brasília, em aviões explodindo, em ônibus incendiados... Positivo pro mundo, né? Porque pro cidadão vai ser um trauma. Ui, declinei.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

contando um sonho


A varanda da casa se extendia. Na beirada, esticando o pescoço, se via a água do mar lá embaixo. Muito embaixo, pois a casa ficava sobre um paredão enorme de rocha. Perto da água, algumas pedras e nas pedras, alguém tomando sol. Mal conseguia identificar se era uma mulher, um homem ou uma criança. Comentei com a dona da casa: Tem alguém lá embaixo. É, mora uma família lá. Nas pedras? Dentro delas. Como? A casa deles fica dentro do paredão. Nossa! Quer ir lá conhecer? Quero.
Depois de bater na porta, a mulher sumiu. Quando o homem abriu, eu ainda a procurava em volta. Ele não falou nada, apenas me puxou pelo braço colocando o dedo indicador sobre os lábios num suave pedido de silêncio. E eu fui, quieta, a boca e os olhos abertos, duvidando do que estava vendo: uma casa dentro das rochas, uma casa que de fora não se via. Como a mulher sabia daquilo? Fomos subindo as escadas, estreitas, como toda a casa. A cada andar, um quarto. A cada quarto, uma criança. Uma lendo, outra pintando, outra dormindo... No quinto andar, uma menina de uns doze, treze anos, sentada perto de uma fenda na rocha, ouvia música com fones de ouvido. Não nos viu entrar no quarto. O homem tocou seu ombro, ela se virou sorrindo e veio em minha direção. Perguntou, quase encostando na minha orelha: Você me viu lá de cima? Eras tu? Era, mas não conte nada pra mamãe. Por que? Ela não deixa a gente sair, mas eu gosto de tomar sol.
A voz da mãe ecoou na casa: Elisabete, que barulho é esse aí?
Não podia acreditar que ela tivesse ouvido nossa rápida conversa ao pé do ouvido. A menina me empurrou para o lado do armário quando a mãe entrava no quarto. Então eu não podia ser vista. Por que então o homem me trouxe para dentro da casa?

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Mensagem de Amor


os livros na estante já não tem mais tanta importância
do muito que eu li, do pouco que eu sei
nada me resta


a não ser a vontade de te encontrar
o motivo eu já nem sei
nem que seja só para estar ao seu lado
só pra ler no seu rosto
uma mensagem de amor


à noite eu me deito,
então escuto a mensagem no ar
vagando entre os astros
nada me move nem me faz parar


a não ser a vontade de te encontrar
o motivo eu já nem sei
nem que seja só para estar ao seu lado
só pra ler no seu rosto
uma mensagem de amor


Herbert Vianna


terça-feira, 17 de julho de 2007

O dia em que conheci Chuck Norris

Agualusa, Nelson Saúte e Mia Couto na Casa da Cultura de Paraty.


Então, resumindo: Paraty é uma graça, as pessoas que andam de bicicleta lá devem ser de outro mundo e Trindade tem praias tão bonitas quanto as de Floripa.

E a Flip é legal.


Mas não é que tem gente que leva a sério? Pra mim, como o nome diz, aquilo é uma festa e só que tem de levar festa a sério (ou não) é quem organiza. Se fosse um evento acadêmico, não reuniria tanta gente, mesmo em Paraty. Quando a coisa se aproxima de algo acadêmico, ninguém curte, ainda que já esteja de “sobreaviso”.


Exemplo: a mesa – onde não cabia mais um mortal – com J. M. Coetzee, o sulafricano ganhador do Nobel (lembram que já citei o nome dele aqui?). Eu e o Namoradim não vimos, mas nos contaram que o cidadão leu trechos de seu último livro. Só leu. Leu, leu e leu. E foi-se embora sem dar tchau. Quem já esteve em algum congresso de literatura, teoria literária, sabe que, em geral, é assim: vinte minutos pro cara ler o seu artigo e tchau e benção. Só comparece a esses eventos quem realmente tem muito interesse, quem quer ter mais um certificadozinho pra colocar no currículo ou quem desconhece outra maneira de pagar seus pecados. Claro que não é isso que as pessoas esperam da Flip, mesmo que o o escritor tenha dito com antecedência que não iria falar sobre sua obra e etc.


Uma mesa com dois, três autores tem mais chance de ser interessante – ou pelo menos agradável. Foi o caso da mesa com a também sulafricana e também ganhadora do Nobel, Nadine Gordimer, e com o israelense Amós Oz. Os dois, depois de superada a parte séria do debate, papearam, entre outras coisas, sobre a instituição familiar. Amós disse que não há nada mais estranho no mundo que a família e contou alguns “causos”, como o de quando seu pai – com quem tinha muitos problemas - o chamou para uma conversa “de homem pra homem”. O pai na casa dos noventa e ele com mais de trinta anos, casado e com três filhos. "Descobri que, em certas coisas, as mulheres são exatamente iguais aos homens; e em outras, elas são completamente diferentes de nós – agora, só falta eu separar umas das outras...".


Bueno, eu poderia contar mais uma porção de coisas... sobre a mesa com Jim Dodge (autor de “Fup” - personagem que poderia se chamar Sofia, caso fosse uma cadela e não uma pata) e Will Self, sobre Fernando Morais, Ruy Castro e Paulo César Araújo (aquele mesmo, aquele que teve o livro retirado de circulação por conta do Roberto Carlos), mas não quero me alongar demais. Difícil. Só vou contar mais uma.


O palito de picolé premiado da Flip, pra mim, foi o encontro de José Eduardo Agualusa (por quem o mulherio se alvoroçou) e Mia Couto, mediado por um impagável escritor moçambicano que não conhecia – Nelson Saúte. Aconteceu no evento que chamam de Off- flip, na Casa de Cultura de Paraty, num 'teatro' lotado na sexta-feira à noite. Eu e Namoradim ficamos em pé e nem reclamamos, só rimos.


Depois de Saúte ter feito uma pergunta e Agualusa ter dado duas respostas, Mia Couto disse que não precisava dar mais nenhuma e que iria contar uma história. Vou parcamente reproduzi-la.


O moçambicano estava em seu país, que havia sofrido com uma enchente, quando foi convidado pela BBC a dar uma entrevista sobre o assunto. Pareceu-lhe algo estranho, mas aceitou. O “circo” foi armado próximo a uma cratera aberta pela inundação e logo o povo se amontoou em volta querendo saber o que acontecia. Mia Couto, ao passar entre as pessoas, ouviu coisas do tipo: “Acho que é cinema. Devem estar a gravar um filme'. Outro dizia que devia ser coisa do governo, que enfim faria algo a respeito dos estragos causados pela enchente. Quando o escritor atravessou a faixa que distanciava o populacho das câmeras, alguém gritou: “Eu não disse? Eu não disse que era cinema? Olha lá! O Chuck Norris!”. “Chuck Norris! Chuck Norris!” - o chamavam. Retrucando, outra pessoa falou que não, que aquele era o Mia Couto, um escritor, de Moçambique mesmo. Não encerrada a questão, mais um grito: “Ei! Ei, Mia Couto! O que estás a fazer aí a te passar por Chuck Norris?”.


sábado, 14 de julho de 2007

Literatura Brasileira - outra lembraça


Esse eu li na época da faculdade. Lembrava apenas alguns pequenos trechos. Não me lembrava mais do nome e para achar o texto na internet fiquei digitando os trechinhos + Pe Antônio Vieira. Enfim, achei. É mais longo do que eu pensava. Dei boas risadas, quando terminei de ler sobre todos os remédios indicados para curar o amor. Vieira compara o amor de Deus ao amor possível aos seres humanos.
Pois bem, se entrar na casa de quem está a sofrer dos males do amor, certamente irá crê-lo enfermo de amor incurável. Mas como diz o provérbio, não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe, e o literato sacerdote, sobre “os remédios do amor e o amor sem remédio”, receita:
"O primeiro remédio que dizíamos é o tempo. Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já não fere, abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhes os defeitos, enfastia-lhes o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não amar, e o ter amado muito, de amar menos.
(...) O segundo remédio do amor é a ausência. Muitas enfermidades se curam só com a mudança do ar; o amor com a da terra. E o amor como a lua que, em havendo terra em meio, dai-o por eclipsado. (...) Se os mortos são tão esquecidos, havendo tão pouca terra entre eles e os vivos, que podem esperar, e que se pode esperar dos ausentes? Se quatro palmos de terra causam tais efeitos, tantas léguas que farão? Em os longes, passando de tiro de seta, não chegam lá as forças do amor (...) Fez a ausência seu ofício, como a morte: apartou, e depois de apartar, esfriou.
(...) O terceiro remédio do amor é a ingratidão. Assim como os remédios mais eficazes são ordinariamente os mais violentos, assim a ingratidão é o remédio mais sensitivo do amor, e juntamente o mais efetivo. A virtude que lhe dá tamanha eficácia, se eu bem o considero, é ter este remédio da sua parte a razão. Diminuir o amor o tempo, esfriar o amor a ausência, é sem-razão de que todos se queixam; mas que a ingratidão mude o amor e o converta em aborrecimento, a mesma razão o aprova, o persuade, e parece que o manda. Que sentença mais justa que privar do amor a um ingrato? O tempo é natureza, a ausência pode ser força, a ingratidão sempre é delito. Se ponderarmos os efeitos de cada um destes contrários, acharemos que a ingratidão é o mais forte. O tempo tira ao amor a novidade, a ausência tira-lhe a comunicação, a ingratidão tira-lhe o motivo. De sorte que o amigo, por ser antigo, ou por estar ausente, não perde o merecimento de ser amado; se o deixamos de amar não é culpa sua, é injustiça nossa; porém, se foi ingrato, não só ficou indigno do mais tíbio amor, mas merecedor de todo o ódio. Finalmente o tempo e a ausência combatem o amor pela memória, a ingratidão pelo entendimento e pela vontade. E ferido o amor no cérebro, e ferido no coração, como pode viver?
(...) É pois o quarto e último remédio do amor, e com o qual ninguém deixou de sarar: o melhorar de objeto. Dizem que um amor com outro se paga, e mais certo é que um amor com outro se apaga. Assim como dois contrários em grau intenso não podem estar juntos em um sujeito, assim no mesmo coração não podem caber dois amores, porque o amor que não é intenso não é amor. Ora, grande coisa deve de ser o amor, pois, sendo assim, que não bastam a encher um coração mil mundos, não cabem em um coração dois amores. Daqui vem que, se acaso se encontram e pleiteiam sobre o lugar, sempre fica a vitória pelo melhor objeto. É o amor entre os afetos como a luz entre as qualidades. Comumente se diz que o maior contrário da luz são as trevas, e não é assim. O maior contrário de uma luz é outra luz maior. As estrelas no meio das trevas luzem e resplandecem mais, mas em aparecendo o sol, que é luz maior, desaparecem as estrelas
(Sermão do Mandato, 1643)".

Fica pois a receita do esculápio presbítero para aqueles que de tal moléstia se sentem vítimas e os votos de boa sorte e breve convalescença.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Memória

Cão cão cão abriu a porta e viu o amigo que a tempo não via mas estranhou que estivesse acompanhado....
Corrompido, é claro, e recitado em um único fôlego. Foi assim que guardei o trecho do texto do Milôr. Dos oito irmãos, no mínimo seis leram Cão! Cão! Cão!. Não. Não lemos na mesma época. Estava em um dos livros de língua portuguesa e literatura brasileira. Portanto, creio que lemos o triplo Cão! nos últimos anos do primeiro grau. Tornou-se piada particular na família para todas as ocasiões em que chegava uma visita com alguma companhia desajeitada. Não que fôssemos muito ajeitados. Em um período que adolescente era visto como algo que não era nem jovem nem criança, a falta de identidade nos tornava mais estabanados. Sem falar das pernas longas, das orelhas de abano, do nariz comprido e da natural magreza de quem cresceu demais e ainda não pôs recheio entre a pele e os ossos.
Uma vez encenamos, na sala de estar, para desgosto de meus pais, o enredo canino, revezando entre irmãos o papel do cão e dos amigos. Obviamente, era melhor ser o cão. Até que a dona da casa, a senhora minha mãe, teve a brilhante idéia de colocar os cães para dormir na casinha do cão. Não sei porque, mas passei vários anos sem me lembrar do texto...

Tempo

Início da tarde na sala vazia. Dois quadros na parede acima da linha dos olhos. Quem veria o delicado traçado da pena moldando a cidade antiga? Era preciso olhar para o alto e ser inundado pela baia da Guanabara ou de Todos os Santos? O silêncio da sala vazia. Crianças brincam embaixo das árvores. Folhas e ramos riem no 3o andar. Som de vento e riso. A pele seca. A boca seca.

Uma linha. Duas, três. Apaga, escreve outra vez.

Deixa o tempo passar cantando esquece. Procura a letra da canção deixada no cais. Cais na solidão da madrugada. Esquece o restante do poema escrito para o amor que ficou no tal do cais do poema. Sozinho. Tinha uns latidos na madrugada.

Ha! Não eram latidos. Eram galos cantando.

Mas esse era um outro poema. Não, esse não é seu. É de outro. Poema antigo.
A bico de pena como os quadros.
Era a madrugada no campo ou no porto? No porto alegre ou seguro? O seguro morreu de velho. Será que ficou triste antes de velho? Podia ser um velho porto seguro e alegre em um campo grande.

Mais uma linha.

Lembra que esqueceu de pregar o botão da camisa. Entra no quarto, vai à janela colhe um botão de rosa. Põe as roupas na máquina e a chaleira no fogo. Olha o relógio em cima da geladeira. Precisa acordar cedo.

O dia correu. Carolina não viu.

uma antiga pro amauri

eu era relvita, lesmolenta, grimpando mossilábicos silvos no sonibundo mundo.
indo e vindo boluia co tempespada, fera mordida, em sanguinoloso gargalhar.
surgiu-me um tempestoso elfo, olhar luminante, labaredou-me num dia.
na noite eu iluminia

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Carmem

suspende o mundo, faz de conta que não sabe que não tem dinheiro para pagar a conta, escolhe o mais caro, o que há de mais colorido para pôr na sua frente e não enxergar o futuro negro que se insinua. A última nota na bolsa e uma lista de coisas a pagar. Para que se previnir? de que situação essa nota a safaria? A sede é maior do que o medo de ficar sem a derradeira gota d'água. Carmen não tem o que temer. Gasta tudo com um Romanoff da Confeitaria Francesa.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

eu poderia gritar

gritar o quê? Eu poderia chorar. Não vejo mais o por quê. Eu poderia xingar. Não tenho mais a quem. Eu poderia reagir de alguma forma. Para quê? O que mais poderia vir depois desse abismo? Mais e mais abismos. Os ecos de uma emoção surda, sem melodia, disritmada no meu caminho de dentro, morta nas paredes neon do meu coração. Ossos de uma alma ferida, abandonada no canto escuro de um corpo inerte.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

A intimidade é isso

um espaço de poder. Um espaço político. É intimidade, por exemplo, no senso comum, poder fazer uma piada de algo erótico, sensual com alguém estranho, desconhecido. O repertório social para conversas entre homens e mulheres é limitado e bastante limitante. Uma brecha aberta, fora deste repertório já indica disposição para permitir que o outro chegue perto do circulo interior. a intimidade é um espaço de poder chegar dentro da gente. Um sorriso, um beijo d esopetão, uma piadinha, são sinais de reconhecimento de que o outro pode entrar e pertencer ao espaço interno. Tem umas gentes especiais decorando meu interior.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

quarta-feira, 27 de junho de 2007

mudança...

A vida é assim... uma hora, sem mais nem menos, ou por um motivo qualquer, a gente precisa se desfazer de certas coisas, ora importantes, ora banais... coisas que nos trazem lembranças tristes, mas que também nos fazem lembrar de momentos que jamais voltarão. São coisas que, com o passar do tempo começam a pesar dentro das gavetas da vida. Vida essa que precisa, cedo ou tarde, mudar, quem sabe, para muito melhor do que se possa imaginar. E se mudar para pior, vale a experiência de aprender que determinados caminhos não se devem seguir, mas que se não arriscarmos, jamais sabaremos se deu certo ou errado.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Vento

A vida seria mais sim simples se não fosse o vento.


Vento que nos leva àquele frescor da manhã de uma música cantada com os sons dos pássaros e dos primeiros raios do sol.

Vento que nos traz o aroma daquela tarde de maresia do pôr-do-sol de outrora e da areia fina nos pés.

Vento que nos transporta para um futuro que acontecerá em dois minutos, em duas horas ou em dois anos.

Vento que nos encaminha a pensamentos presentes, passados e futuristas, da memória saudosa, do presente escrevente e do futuro de bola de cristal e búzios.

Vento que empurra o "barco sem guarida na névoa de agosto" às "duas da manhã de manuscritos sagrados"...

Vento em todos os lugares. Um sopro, uma brisa, ventania, vendaval interior remexendo os papéis e os quebra-cabeças de cinco mil minúsculas peças.



E esse ar condicionado central, que barulho!!
Acorda-me de meus pensamentos!

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Cinco e meia e meus olhos se abrem

automaticamente sem que eu possa determinar o que quero. Tudo ainda escuro, aliás mais escuro do que de costume. Deve ser esta minha velha mania de não abrir os olhos quando não há luz. Engraçado, não sinto cheiro de nada. Talvez ainda esteja dormindo. Só vejo sombras, abro mais os olhos, tenho certeza de que estão abertos. Tateio buscando encontrar alguém mas não encontro em minha lembrança nenhuma referência sobre quem deitou-se ou deveria ter se deitado comigo. Só encontro um vazio, pesado e enorme. Um vazio que agora começa a me incomodar. Que sensação é essa? Meu coração está acelerado, um calor saindo das minhas narinas. O que aconteceu? Meu quarto parece que mudou de forma, não vejo as paredes, vejo um cinza fuligem que não tem fim... Será que bebi? Não consigo apalpar nada, as formas se movem quando tento pegá-las! Vejo traços de rostos de velhos conhecidos nestas formas. Sinto o suor brotando na minha testa, no meu buço. Devo ter bebido...não me lembro! Sinto de volta algo que só senti quando minha filha foi rejeitada na escola, um calor e um vazio, uma certa insegurança e a barriga querendo doer... medo? Até então eu não sabia o que era medo. Me gabava de não temer ser vivo, sem medo dos assassinos que pus na cadeia, nem dos que na cadeia sem terem cometido crimes. Ameaça de ser humano nenhum jamais me abalou. Tampouco me lembro de ter sentido medo de bicho ou seres de outro mundo... agora olho em volta e vejo estas sombras translúcidas, flutuantes, impalpáveis, irreais. Que náusea! Agora sinto até o cheiro podre de mijo e bosta! Argh, aquele cheiro de viaduto habitado pela corja nojenta de maltrapilhos! O que este cheiro está fazendo na minha casa? No meu sonho? Não deve ser sonho, a gente não sente cheiro em sonho, ou sente? Não tenho medo dessa gente, já disse, mas temo a solidão em que elas metem, a rejeição que elas sofrem da sociedade.Tenho medo de morrer sózinha e só ser encontrada quando o cheiro podre encontrar o nariz dos vizinhos. É como agora, estou tentando acordar, não vejo ninguém, não consigo me livrar dessas malditas sombras que insistem em me fazer lembrar só fragmentos de coisas, de pessoas. Milnha filha, os médicos, o crápula! Ai, a dor de sentir-me enganada, traída! Eu que me cria sempre com razão, Eu que achava que conhecia e sabia tudo! Discuti com o preconceito da diretora, sofri com a discriminação e a rejeição contra minha filha, passei a ficar irracional, irada, sem argumentos para conseguir matrícula para minha filha em nenhuma escola! O temor do contágio que não se comprovava que movia aquelas faces mórbidas agora refletidas nessas sombras! Bossais, não passam de covardes, idiotas, ridículos e patéticos, médicos sem diagnósticos, teses absurdas. sanguessugas, vampiros de aventais. Imbecilizados entre receitas e representantes de fármacos, submetendo minha filhinha às torturas medievas e cruéis. Ela ali, quieta, sem gemido, sem queixa! Horas e horas de fila tratamento, exames, espera aflição. Ela cada vez mais careca, isolada, rejeitada pelas crianças, por todos. Estas sombras são a infância que minha filha perdeu dentro de casa. Trazem d evolta minha dor, meu pé pisando na lajota gelada, solta aos pés da escada. è como se eu soubesse tudo em um segundo. Como pude viver tanto tempo sem saber e de repente compreender tudo, num lampejo! Minhas mãos voltam a tremer, ecos dos gritos de horror e lucidez me voltam ao corpo todo. Minha unhas cravadas naquele animal! Seu olhar frio negando. Minha ira me incendeia ainda. Mas, já estou fraca, não sinto a força nos membros, mais. Me pergunto: que brincadeira é essa? que jogo brincavam? Ele viril, entrando em nossa intimidade sem atropelos, se acomodando por falta de conflito. qual o frenesi que movia sua luxúria? Não acreditei! eu o deixei entrar em minha casa, eu o acolhi sem dúvidas nem receios. Agora vejo-o misturado com os fios de cabelos de minha filha arrancados um a um e enterrados debaixo da lajota, ...

Desanuviar

Capítulo I

A diversão

Menina, brincando na varanda de casa, dei pra seguir com os olhos algumas formigas jardineiras. Resolvi espalhá-las, soprei-as, bati com as mãos sobre o chão, fiz barulho, a fila de carregadeiras se desfez. Sobraram duas. Observei-as, rodopiando pelo ladrilho, ainda perdidas, e pus o dedinho sobre uma delas. Matei-a. Ainda fiquei algum tempo a olhar a outra que, aparentemente, retomava o caminho da fila. Ela se deteve diante da morta, começou a carregá-la. Interceptei seu caminho com o dedo. Ela se desviou. Fiz isso várias vezes, ela sempre se desvencilhava, sem largar a carga. Divertia-me. Ela se agitava. Pus lascas de madeira, de grama, de palha, qualquer coisa que encontrasse era boa para lhe dificultar o caminho. Numa agitação muito grande, totalmente sem rumo, ia e retornava, dava voltas no mesmo lugar. Alegrava-me ver-lhe o esforço para fugir e, ao mesmo tempo, suportar o peso. Transtornada e sem direção, finalmente ela largou o corpo.

Capítulo II

O desespero

Foi quando me assustei. Na cabeça da pequena malvada, aquela formiga estava carregando a companheira para lhe dar um féretro, um enterro. Eu ainda não havia estudado a vida dos insetos na escola, para saber que o cadáver provavelmente viraria comida no formigueiro. Imaginava então que havia levado a carregadeira a uma aflição tão grande que a fizera desistir de sua nobre missão: render as últimas homenagens à irmã morta. Sentia que era uma coisa horrível, vieram os remorsos. Não pela morte de uma, mas pela loucura da outra. Tragédia das tragédias, cega de dor e medo, renega carne de sua carne? Peguei a defunta com cuidado – foi difícil, ainda que pequenos meus dedos, ela era minúscula – e a coloquei no caminho da sobrevivente. Ela se desviou da outra, continuava sua desvairada corrida, queria salvar-se, abandonava a amiga à própria morte. Desatino, absurdo total, inconcebível. Aquiles, tomado de loucura, largava o corpo de Pátroclo no campo de batalha. Desespero. Diversas vezes, repeti o gesto. Ela não reconhecia a morta, desvia-se-lhe. Impossível. De novo, o corpinho inerte era jogado diante da semelhante. Nada. Ela, louca, insensível, corria. Só corria, não importava sequer o caminho. Eu lhe implorei que recapturasse a morta. Leve-a, eu chorava, leve-a, seu lugar é o formigueiro, não a abandone, não abandone, pegue-a de novo, por favor. É sua irmã.

Capítulo III

O sofrimento

Não agüentei vê-la louca, desatinada, abandonando a companheira. Num gesto final, o cruel dedinho cometeu mais um crime. Matei-a também. Estava acabado. Pelo menos aquela loucura, aquele desatino, terminara. Respirei aliviada enquanto olhava os dois cadáveres no piso da varanda. Foi quando me sobreveio um sentimento ainda pior: quanto sofrimento eu infligira àquele ser. Não me sentia culpada, não pensava na minha ação gratuita e má, só conseguia imaginar a intensidade da dor que a formiga sentira. Tão grande e forte que de seu corpo teria saído uma nuvem densa, escura, que aumentava na proporção do pesar. Imaginei que todo ser que sofresse em todo o planeta produzia, subindo de sua cabeça para a atmosfera, essa massa de gases escuros, carregada de tristeza. O mundo logo se transformaria num imenso balão asfixiante. Morreríamos todos, sob um céu turvo, enredados em angústias, amarguras, infortúnios, próprios e alheios.

Capítulo IV

O fim

Naquela noite, envolvida pelos braços de minha mãe, aprendi o significado da palavra desanuviar.

A Cabana do Pai Lacan

http://br.geocities.com/alexandertorres_psi/psico/index_psi.htm

Canciones mecquetrefes

terça-feira, 19 de junho de 2007

'Haviam sido feitos descansadamente um para o outro, como roupa sob medida costurada pela vizinha de porta'


- Não, não. Isso tá muito brega!

- Por que brega?

- Essa coisa de “um para o outro”, “sob medida”... sei lá.

- E o que tu achas de “sou bandida / sou solta na vida / e sob medida pr'os carinhos teus”?

- Ah, mas isso é Chico!

- E o Chico pode ser brega?

- Não, o Chico não é brega nunca. E o Chico pode tudo...

- Ai, meu caralho!


'Ele era meu palito de picolé premiado. Meu primeiro 10 em matemática. A melhor piada da festa'


- Agora estavas indo bem, só que essa de dizer que o cara é uma piada não dá, né? Corta, corta!

- Corto nada. Tu não entendes, mas isso não quer dizer que os meus leitores padeçam da mesma falta de sutileza.

- Sutileza? Do que a gente tá falando?

- Não me aporrinha, criatura...

- E esses leitores? Ah, sim, claro... Os leitores! Vai, continua então.

- Sai, sai! Te arranca daqui! Não sei porquê ainda te deixo sair da gaveta!



segunda-feira, 18 de junho de 2007

Representação

Só a arte, e mais particularmente a literatura, pode dar conta da vida. Tenho a nítida sensação – e não vou dizer certeza por medo da presunção e apenas por isso – de que a representação da vida é maior que a própria vida. Sei que não sou original. Guimarães Rosa e Caetano Veloso, por exemplo, cada qual à sua maneira, já disseram isso. G.R., em “A Viagem do Grivo”; Caetano, em “Jenipapo Absoluto”. Essa afirmação oprime. Somente a coisa contada, cantada, falada, registrada, existe? Somente a palavra cria os seres, o mundo? Especulações metafísicas incoerentes na boca de uma materialista. Fazer o quê?

Você

Esses últimos dias eu tenho pensado...
pensado muito.
Tenho pensado em você.
Sim, você mesmo, que sorriu para mim um sorriso tão lindo e, aparentemente, sincero. Você que encontrou no meu coração um lugarzinho quentinho, bem aconchegante, e ali dentro se acomodou de tal maneira que eu não tenho coragem de expulsá-lo.
Você que veio em minha direção como um menino carente, com os olhinhos brilhando, me pedindo carinho e atenção.
Você que em tão poucos momentos me fez tão feliz e agora, mesmo aqui dentro, parece distante.
Ei, presta atenção... eu estou falando de você.
Você que a cada dia cresce em meus pensamentos e me faz ainda mais apaixonada cada vez que te vejo.
Você... tão lindo!
:)

De cigarros e cinzas

O diabo ri assim

como um cinzeiro

que consome o cigarro

O cinzeiro parecia um demônio, sorrindo. Engoliu o cigarro por puro prazer, enquanto assistia à sua agonia até a morte. A cinza já não lhe fazia tão bem. Pediu outro. Eu o acendi e entreguei para que também queimasse até morrer. O sorriso do diabo mais e mais se iluminava. Quanto mais alimento, mais fome. Até quando? Até que eu queime junto.

Ana Silva em preparação para o programa de combate ao tabagismo

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Alegria

Eu vou te dar alegria
Eu vou parar de chorar
Eu vou raiar o novo dia
Eu vou sair do fundo do mar
Eu vou sair da beira do abismo
E dançar e dançar e dançar
A tristeza é uma forma de egoísmo
Eu vou te dar eu vou te dar eu vou

Hoje tem goiabada
Hoje tem marmelada
Hoje tem palhaçada
O circo chegou

Hoje tem batucada
Hoje tem gargalhada
Riso e risada
Do meu amor

(Sábios versos de Arnaldo Antunes)

É assim mesmo... há dias em que a tristeza entra sem pedir licença, sem um motivo convincente, e se instala como um vírus aparentemente incurável, egoísta, que teima em deixar a melancolia transparecer involuntariamente. Mas há dias melhores... bem melhores. Nesses dias, a alegria entra como o sol que irradia a janela da sala logo pela manhã, atravessando todas as frestas da nossa alma, deixando no olhar aquele brilho intenso, inatingível. Alegria assim é verdadeira, tão verdadeira que a gente sente uma imensa necessidade de transmitir a todos que passam a nossa volta.
Apesar das tristezas insistentes, a felicidade, mesmo que pontual, existe.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Achadouros


Do livro Memórias Inventadas - A infância, do Manoel de Barros, uma preciosidadezinha que só esse homem mesmo poderia ter escrito.

Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade. Mas o que eu queria dizer sobre o nosso quintal é outra coisa. Aquilo que a negra Pombada, remanescente de escravos do Recife, nos contava. Pombada contava aos meninos de Corumbá sobre achadouros. Que eram buracos que os holandeses, na fuga apresssada do Brasil, faziam nos seus quintais para esconder suas moedas de ouro, dentro de grandes baús de couro. Os baús ficavam cheios de moedas dentro daqueles buracos. Mas eu estava a pensar em achadouros de infâncias. Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos. Hoje encontrei um baú cheio de punhetas.



Presença

Proprietária de blog, acusada de ser blogocêntrica latifundiária, marco presença hoje neste espaço virtual coletivo.
Apedrejada, maltratada, vilipendiada, apresento-me humildemente, com minhas parcas letras, para tentar me redimir da ausência motivada por egoístas pretensões.
E deixemos de adjetivos (dos quais gosto tanto) para evitar o vício do excesso.
Enfim, peço perdão. Como Adnanda, preciso de amigo(a)s. A diferença é que ela é poética. Eu, patética.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Preciso


Preciso encontrar uma solução.

Preciso de ajuda.

Preciso de amigos.

Preciso de um amor.

Preciso de alegria.

Preciso da minha mãe.

Preciso do meu mar.

Preciso da minha vida de volta.

Preciso chorar.