quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

p-a-l-a-v-r-a


Fomos condenados à palavra e ela a nós.


A palavra nasce, cresce, mas não morre (apenas se esconde). A palavra vai à escola, senta no banco da indiferença e escolhe quem vai sentar ao seu lado. A palavra não pode ser reprovada e, mesmo não dita, se agiganta para cima de qualquer um que queira ser seu professor.

A palavra morde quem tenta aprisioná-la, arranca-lhe um dedo e lhe transmite a famosa tosse vocabular, aquela que faz com que o cidadão cuspa seguidas palavras que se repelem, como em “quando o grito do prazer açoitar o ar, reveillon”, resultado de uma crise aguda de um tal Djavan. Tem cura, entretanto, a palavra. Não a tosse.

Uma amizade desinteressada com a palavra tem chance de funcionar. Assim então a palavra se deixa flexionar a vontade, se multiplica, forma família, se conjuga que é uma beleza. Mas tudo sem pressa, que a palavra demorou para chegar onde está e teme se perder na boca de qualquer um. Não quer ser um mero morfema.

Drummond queria a palavra "dentro da qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a". Não desconfiava ele que a palavra não quer ser comida em suas entranhas, não aceita parasitas da palavra. Deseja ser saboreada sim, mas por fora, por diferentes línguas em cada uma de suas letras, emudecendo os que não foram convidados para o banquete da palavra.

"Tomai, todos, e comei: Isto é a palavra que será entregue por vós".