sábado, 28 de junho de 2008

Publicado em um site financeiro

Uma mulher escreveu pedindo dicas sobre como arrumar marido rico. Só isso já é engraçado, mas o melhor da história é que um cara deu a ela uma resposta bem fundamentada.

Dela:

'Sou uma garota linda (maravilhosamente linda) de 25 anos. Sou bem articulada e tenho classe. Estou querendo me casar com alguém que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Tem algum homem que ganhe 500 mil ou mais neste site? Ou esposas de gente que ganhe isso e possa me dar algumas dicas?
Já namorei homens que ganham por volta de 200 a 250 mil, mas não consigo passar disso, e 250 mil não vão me fazer morar em Central Park West. Conheço uma mulher da minha aula de ioga que casou com um banqueiro e vive em Tribeca, e ela não é tão bonita quanto eu, nem é inteligente. Então, o que ela fez de certo que eu não fiz? Como eu chego ao nível dela?'
Rafaela S...'

Dele:

'Li sua consulta com grande interesse, pensei cuidadosamente no seu caso e fiz uma análise da situação. Primeiramente, não estou gastando o seu tempo, pois ganho mais de 500 mil por ano.
Isto posto, considero os fatos da seguinte forma: o que você oferece, visto da perspectiva de um homem como você procura, é simplesmente um péssimo negócio. Eis o porquê: deixando as firulas de lado, o que você sugere é uma negociação simples. Você entra com sua beleza física e eu entro com o dinheiro.
Proposta clara, sem entrelinhas.
Mas tem um problema. Com toda certeza, a sua beleza vai decair e um dia acabar, e o mais
provável é que o meu dinheiro continue crescendo. Assim, em termos econômicos, você é um ativo sofrendo depreciação, e eu sou um ativo rendendo dividendos. Você não somente sofre depreciação como essa depreciação é progressiva, sempre aumenta ! Explicando, você tem 25 anos hoje e deve continuar linda pelos próximos 5/10 anos, mas sempre um pouco menos a cada ano, e de repente, se você se comparar com uma foto de hoje, verá que já estará um caco. Isto é, você está hoje na 'alta', na época ideal de ser vendida, não de ser comprada.
Usando o linguajar de Wall Street, quem a tem hoje deve tê-la em 'trading position' (posição para comercializar), e não de 'buy and hold' (compre e retenha), que é o para quê você se oferece...
Portanto, ainda em termos comerciais, casamento (que é um 'buy and hold') com você não é um bom negócio a médio/longo prazo, mas alugá-la pode ser, e, em termos sociais, um negócio razoável de que podemos cogitar é namorar. Cogitar...
Já cogitando, e para certificar-me do quão 'articulada, com classe e maravilhosamente linda' você seja, eu, provável futuro locatário dessa 'máquina', quero o que é de praxe: fazer um 'test drive'...
Peço marcar.
Mr John Edwards.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Humor é virtude?

Recortado e costurado do capítulo 17 do Pequeno tratado das grandes virtudes, de André Comte-Sponville.


Que ele seja uma virtude poderá surpreender. Mas é que toda a seriedade é condenável, referindo-se a nós mesmos. O humor nos preserva dela e, além do prazer que sentimos com ele, é estimado por isso.
Se “a seriedade designa a situação intermediária de um homem eqüidistante entre desespero e futilidade”, como diz lindamente Jankélévitch, devemos observar que o humor, ao contrário, opta resolutamente pelos dois extremos.
[...]
Um pouco de humor, um pouco de amor: um pouco de alegria. Mesmo sem razão, mesmo contra a razão. Entre desespero e futilidade, às vezes a virtude fica menos num meio-termo do que na capacidade de abraçar, num mesmo olhar ou num mesmo sorriso, esses dois extremos entre os quais vivemos, entre os quais evoluímos, e que se encontram no humor. O que não é desesperador para um olhar lúcido? E o que não é fútil, para um olhar desesperado? Isso não nos impede de rir do que vemos, e é sem dúvida o que de melhor podemos fazer.
[...]
Quando é fiel a si, o humor conduz antes à humildade. Não há orgulho sem espírito de seriedade, nem espírito de seriedade, no fundo, sem orgulho. O humor atinge este quebrando aquele. É nisso que é essencial ao humor ser reflexivo ou, pelo menos, englobar-se no riso que ele acarreta ou no sorriso, mesmo amargo, que ele suscita. É menos uma questão de conteúdo do que de estado de espírito.
[...]
Mas o humor não está apenas a serviço da humildade. Também vale por si mesmo: ele transmuta a tristeza em alegria (logo o ódio em amor ou em misericórdia, diria Spinoza), a desilusão em comicidade, o desespero em alegria… Ele desarma a seriedade, mas também, por isso mesmo, o ódio, a cólera, o ressentimento, o fanatismo, o espírito sistemático, a mortificação, até mesmo a ironia. Rir de si primeiro, mas sem ódio. Ou de tudo, mas apenas enquanto se faz parte desse tudo e se o aceita.
[...]

O espírito zomba de tudo. Quando zomba do que detesta ou despreza, é ironia. Quando zomba do que ama ou estima, é humor. O que mais amo, o que estimo mais facilmente? “Eu mesmo”, como dizia Pierre Desproges. Isso diz o suficiente sobre a grandeza do humor, e sobre sua raridade. Como não seria uma virtude?


sexta-feira, 6 de junho de 2008

para um amigo ausente

Reproduzindo o texto do meu amigo Jean Mafra.



soube agora a pouco, meu querido, que, logo você, com quem eu tomava longos e divertidos cafés, acabou com a própria vida.

éramos um grupo animado, lembra? eu não esqueço. dos nossos amigos, um está na frança fazendo doutorado e os outros estão por aqui. aquele que era da sua turma e que tinha uma risada engraçada, escreve inúmeros artigos sobre artes plásticas e tem um livro publicado. outros dois, os que tinham uma banda com um nome escatológico, estão fazendo coisas, um alimenta um blog e o segundo está em tubarão trabalhando na área de cultura. outro já não vejo, mas esse eu sei que continua dando aula e escrevendo - sim, nosso querido amigo professor de literatura brasileira acabou de publicar mais um livro com poemas (eu li no jornal dia desses). tem uma que foi pra brasília - e está ganhando bem - e os outros estão por aí, e vão sentir sua falta.

nos encontrávamos diariamente e contávamos os centavos pro café... quando não havia grana saíamos do r.u. pra algum laboratório de lingüística ou de literatura em que algum bolsista amigo nos deixava filar um pouco do nosso néctar. nós gostávamos de café e, se não me engano, além de adorar tirar sarro dos nossos colegas, acho que fazíamos aniversário no mesmo dia... e fazíamos mais coisas, comentávamos as aulas de raúl antelo com entusiamo e íamos aos cafés literários do sesc pra comer e discutir questões que achávamos importantes e assistíamos filmes e peças e shows que rendiam longos papos cheios de citações e escárnio. líamos de tudo, e éramos críticos ferozes... lembra do rico esculachando o mirisola e dizendo que deveríamos largar tudo e ir atrás de onetti?!?

foi naquele período que me vi uma fraude, eu não tinha saco pra academia, não tinha vontade de ler foucault ou said com lápis na mão (aliás, até hoje não terminei o primeiro capitulo dos fragmentos do discurso amoros, sabia?!?). mas tem uma coisa que eu não te contei, foram vocês que me ajudaram a perceber isso - que eu não era intelectual. admirava e inveja seu senso de humor ácido e quase infantil, esbanjando uma inteligência rara (porra, você aprendeu romeno sozinho - e só pra tirar um onda!).

ah, meu querido, nem sei ao certo o que dizer, mas estou chocado em saber que não mais nos cruzaremos por aí. aliás, percebi agora que faz um ano que não nos vemos... triste.

um grande abraço pra você. e nos amigos lídia, cristiano, tiago, juniores, marco, lara, priscila, victor, alckmar, ieda, ana carina, januário, fábio, tânia, emílio, carol, juliane, rachel, zilma, zé ernesto, sérgio, rico, veronica e outros alunos das letras que certamente sentirão, assim como eu, sua falta.