sexta-feira, 6 de junho de 2008

para um amigo ausente

Reproduzindo o texto do meu amigo Jean Mafra.



soube agora a pouco, meu querido, que, logo você, com quem eu tomava longos e divertidos cafés, acabou com a própria vida.

éramos um grupo animado, lembra? eu não esqueço. dos nossos amigos, um está na frança fazendo doutorado e os outros estão por aqui. aquele que era da sua turma e que tinha uma risada engraçada, escreve inúmeros artigos sobre artes plásticas e tem um livro publicado. outros dois, os que tinham uma banda com um nome escatológico, estão fazendo coisas, um alimenta um blog e o segundo está em tubarão trabalhando na área de cultura. outro já não vejo, mas esse eu sei que continua dando aula e escrevendo - sim, nosso querido amigo professor de literatura brasileira acabou de publicar mais um livro com poemas (eu li no jornal dia desses). tem uma que foi pra brasília - e está ganhando bem - e os outros estão por aí, e vão sentir sua falta.

nos encontrávamos diariamente e contávamos os centavos pro café... quando não havia grana saíamos do r.u. pra algum laboratório de lingüística ou de literatura em que algum bolsista amigo nos deixava filar um pouco do nosso néctar. nós gostávamos de café e, se não me engano, além de adorar tirar sarro dos nossos colegas, acho que fazíamos aniversário no mesmo dia... e fazíamos mais coisas, comentávamos as aulas de raúl antelo com entusiamo e íamos aos cafés literários do sesc pra comer e discutir questões que achávamos importantes e assistíamos filmes e peças e shows que rendiam longos papos cheios de citações e escárnio. líamos de tudo, e éramos críticos ferozes... lembra do rico esculachando o mirisola e dizendo que deveríamos largar tudo e ir atrás de onetti?!?

foi naquele período que me vi uma fraude, eu não tinha saco pra academia, não tinha vontade de ler foucault ou said com lápis na mão (aliás, até hoje não terminei o primeiro capitulo dos fragmentos do discurso amoros, sabia?!?). mas tem uma coisa que eu não te contei, foram vocês que me ajudaram a perceber isso - que eu não era intelectual. admirava e inveja seu senso de humor ácido e quase infantil, esbanjando uma inteligência rara (porra, você aprendeu romeno sozinho - e só pra tirar um onda!).

ah, meu querido, nem sei ao certo o que dizer, mas estou chocado em saber que não mais nos cruzaremos por aí. aliás, percebi agora que faz um ano que não nos vemos... triste.

um grande abraço pra você. e nos amigos lídia, cristiano, tiago, juniores, marco, lara, priscila, victor, alckmar, ieda, ana carina, januário, fábio, tânia, emílio, carol, juliane, rachel, zilma, zé ernesto, sérgio, rico, veronica e outros alunos das letras que certamente sentirão, assim como eu, sua falta.

3 comentários:

luis vieira disse...

Uma das coisas que sei fazer bem, na alegria e na tristeza: CHORAR.
Chorei pela beleza do texto e pela tristeza da partida!

Namastê

Beso em ti manézinha!

Anônimo disse...

(de um intruso "paulista", com toda obviedade e dúvidas sobre os pronomes)
"É quando teus amigos te surpreendem
Deixando a vida de repente
E não se quer acreditar
Mas essa vida é passageira
Chorar eu sei que é besteira
Mas, meu amigo, não dá prá segurar" (Ira)

Ana Silva disse...

Não aprovo. Não reprovo.
Não aceito, tampouco.