terça-feira, 17 de julho de 2007

O dia em que conheci Chuck Norris

Agualusa, Nelson Saúte e Mia Couto na Casa da Cultura de Paraty.


Então, resumindo: Paraty é uma graça, as pessoas que andam de bicicleta lá devem ser de outro mundo e Trindade tem praias tão bonitas quanto as de Floripa.

E a Flip é legal.


Mas não é que tem gente que leva a sério? Pra mim, como o nome diz, aquilo é uma festa e só que tem de levar festa a sério (ou não) é quem organiza. Se fosse um evento acadêmico, não reuniria tanta gente, mesmo em Paraty. Quando a coisa se aproxima de algo acadêmico, ninguém curte, ainda que já esteja de “sobreaviso”.


Exemplo: a mesa – onde não cabia mais um mortal – com J. M. Coetzee, o sulafricano ganhador do Nobel (lembram que já citei o nome dele aqui?). Eu e o Namoradim não vimos, mas nos contaram que o cidadão leu trechos de seu último livro. Só leu. Leu, leu e leu. E foi-se embora sem dar tchau. Quem já esteve em algum congresso de literatura, teoria literária, sabe que, em geral, é assim: vinte minutos pro cara ler o seu artigo e tchau e benção. Só comparece a esses eventos quem realmente tem muito interesse, quem quer ter mais um certificadozinho pra colocar no currículo ou quem desconhece outra maneira de pagar seus pecados. Claro que não é isso que as pessoas esperam da Flip, mesmo que o o escritor tenha dito com antecedência que não iria falar sobre sua obra e etc.


Uma mesa com dois, três autores tem mais chance de ser interessante – ou pelo menos agradável. Foi o caso da mesa com a também sulafricana e também ganhadora do Nobel, Nadine Gordimer, e com o israelense Amós Oz. Os dois, depois de superada a parte séria do debate, papearam, entre outras coisas, sobre a instituição familiar. Amós disse que não há nada mais estranho no mundo que a família e contou alguns “causos”, como o de quando seu pai – com quem tinha muitos problemas - o chamou para uma conversa “de homem pra homem”. O pai na casa dos noventa e ele com mais de trinta anos, casado e com três filhos. "Descobri que, em certas coisas, as mulheres são exatamente iguais aos homens; e em outras, elas são completamente diferentes de nós – agora, só falta eu separar umas das outras...".


Bueno, eu poderia contar mais uma porção de coisas... sobre a mesa com Jim Dodge (autor de “Fup” - personagem que poderia se chamar Sofia, caso fosse uma cadela e não uma pata) e Will Self, sobre Fernando Morais, Ruy Castro e Paulo César Araújo (aquele mesmo, aquele que teve o livro retirado de circulação por conta do Roberto Carlos), mas não quero me alongar demais. Difícil. Só vou contar mais uma.


O palito de picolé premiado da Flip, pra mim, foi o encontro de José Eduardo Agualusa (por quem o mulherio se alvoroçou) e Mia Couto, mediado por um impagável escritor moçambicano que não conhecia – Nelson Saúte. Aconteceu no evento que chamam de Off- flip, na Casa de Cultura de Paraty, num 'teatro' lotado na sexta-feira à noite. Eu e Namoradim ficamos em pé e nem reclamamos, só rimos.


Depois de Saúte ter feito uma pergunta e Agualusa ter dado duas respostas, Mia Couto disse que não precisava dar mais nenhuma e que iria contar uma história. Vou parcamente reproduzi-la.


O moçambicano estava em seu país, que havia sofrido com uma enchente, quando foi convidado pela BBC a dar uma entrevista sobre o assunto. Pareceu-lhe algo estranho, mas aceitou. O “circo” foi armado próximo a uma cratera aberta pela inundação e logo o povo se amontoou em volta querendo saber o que acontecia. Mia Couto, ao passar entre as pessoas, ouviu coisas do tipo: “Acho que é cinema. Devem estar a gravar um filme'. Outro dizia que devia ser coisa do governo, que enfim faria algo a respeito dos estragos causados pela enchente. Quando o escritor atravessou a faixa que distanciava o populacho das câmeras, alguém gritou: “Eu não disse? Eu não disse que era cinema? Olha lá! O Chuck Norris!”. “Chuck Norris! Chuck Norris!” - o chamavam. Retrucando, outra pessoa falou que não, que aquele era o Mia Couto, um escritor, de Moçambique mesmo. Não encerrada a questão, mais um grito: “Ei! Ei, Mia Couto! O que estás a fazer aí a te passar por Chuck Norris?”.


5 comentários:

Valéria Barros Nunes disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Esperando Godot... disse...

por isso que eu quero ir no ano q vem!!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Hehehe, muito bom! To rindo até agora dessa história!!! =D

Valéria Barros Nunes disse...

e agora posso dizer q sou amiga da mulher q viu chuck norris?

to achando o máximo!

Mariana R disse...

ahahahaha!!!! esse chuck... e essa lídia...