segunda-feira, 9 de julho de 2007

Tempo

Início da tarde na sala vazia. Dois quadros na parede acima da linha dos olhos. Quem veria o delicado traçado da pena moldando a cidade antiga? Era preciso olhar para o alto e ser inundado pela baia da Guanabara ou de Todos os Santos? O silêncio da sala vazia. Crianças brincam embaixo das árvores. Folhas e ramos riem no 3o andar. Som de vento e riso. A pele seca. A boca seca.

Uma linha. Duas, três. Apaga, escreve outra vez.

Deixa o tempo passar cantando esquece. Procura a letra da canção deixada no cais. Cais na solidão da madrugada. Esquece o restante do poema escrito para o amor que ficou no tal do cais do poema. Sozinho. Tinha uns latidos na madrugada.

Ha! Não eram latidos. Eram galos cantando.

Mas esse era um outro poema. Não, esse não é seu. É de outro. Poema antigo.
A bico de pena como os quadros.
Era a madrugada no campo ou no porto? No porto alegre ou seguro? O seguro morreu de velho. Será que ficou triste antes de velho? Podia ser um velho porto seguro e alegre em um campo grande.

Mais uma linha.

Lembra que esqueceu de pregar o botão da camisa. Entra no quarto, vai à janela colhe um botão de rosa. Põe as roupas na máquina e a chaleira no fogo. Olha o relógio em cima da geladeira. Precisa acordar cedo.

O dia correu. Carolina não viu.

2 comentários:

Valéria Barros Nunes disse...

boa essa!
Passa a noite em claro e não vê o dia passar!

gosto de velhos seguros com botões de rosa na janela e galos cantando na madrugada.

Caetana disse...

rscrscrsc.