Tenho passado os últimos tempos com um desejo senão estranho, um tanto quanto peculiar: arrebata-me diariamente a vontade de engolir o mundo. Para meu azar, digo isso sem nenhuma força de expressão ou figura de linguagem. O desejo é de comer mesmo, mastigar bem e sentir o mundo inteiro passar pelo meu trato intestinal.
No começo, não era nada assim de chamar atenção. Coisas miudinhas, pequeninas, que qualquer um engole: lápis, grampo, colar. Nada grave. Achei que passasse rápido.
Dei por conta que a coisa piorava há 3 semanas, quando inesperadamente senti uma salivação excessiva em conversa ao telefone. O fato nada se relacionava com o receptor da mensagem, mas com o próprio canal. Então, sem nem ao menos despedir do meu interlocutor, comi o telefone. Satisfação imediata e episódio esquecido, ou melhor, quase esquecido. Tive de retomá-lo na compra no novo aparelho, no dia seguinte. Foi inevitável solicitar à atendente o modelo menos apetitoso disponível.
Passados 2 dias, novo indício da minha gula mundial. Dessa vez, foi a rede pendurada na minha varanda. Foi quase uma refeição, utilizei guarfo e faca e fiz questão das 32 mastigadas. O prazer foi tanto que pensei que seria a última coisa a engolir na vida. Ilusão a minha! Ainda no tempo sugerido para sobremesa, pulou na minha frente um jogo completo de xadrez. Torres, cavalos, reis, rainhas, peões... todos de uma vez só.
Desde então, confesso que desconheço a saciedade. Preocupei-me muito no príncipio. Agora, estou mais tranqüila, bem mais tranqüila. Sei, por exemplo, que o que sinto não é fome. É puro desejo, capricho bem tinhoso, gula mesmo. Isso me deixou mais aliviada, bem mais aliviada. Sei também que a vontade não é pela coisa em si, é pela sua existência. Só como, então, a realidade. Nossa! Isso me deixou contente, muito contente. Por fim, descobri que faço a digestão de quase tudo, mesmo que demore um tempo maior do que o esperado. Ah, isso me deu mais prazer ainda de comer o mundo!
5 comentários:
Caramba, isso é pornográfico. Comeu o cavalo, o bispo, o rei, a rainha e todos os peões. Cruzes. Que suruba.
É. Como diria a esfínge, decifra-me ou te devoro. Uns decifram, outros engolem, outros vão decifrando durante as 32 mastigadas...
Hahá! lembrei d'A história do mundo, do Monty Python... rs
ADOREI Godozinho!!!!!!! Mui Bueno!
Estão vendo?
Agora, quero livro de todo mundo.
pensei o mesmo q a Cae! Q suruba!!!
Postar um comentário