Lembra dos bancos coloridos da pré-escola? E do parquinho? Tinha um parquinho, claro. E um menino que jogava areia nos outros colegas. Tinha uma tia, ou duas. Uma era boazinha, protegia, a outra deixava todo mundo de castigo, uma Raquel da vida. Na saída, vinha a kombi nos buscar. E aí era aquela briga: as meninas queriam ir na frente com o tio que dirigia e os guris disputavam o último banco, aquele mais alto no fundão. Todos instalados, um puxava o coro das musiquinhas que só os mais velhos entendiam (será que entendiam?) : “Entrei no ônibus / esbarrei na manivela / cobrador filho da puta / me jogou pela janela” - O que é 'filhadaputa'?, perguntava depois em casa. O engraçado é que não perguntava o que era 'manivela'. Sempre tinha um que trancava os dedos na porta da kombi. E sempre tinha um que o tio esquecia de entregar: “Ô, Cleber! Tu ainda taí? Onde é que tu moras mesmo?”. E quando a kombi estragava e o tio socava a piazada toda na Belina dele? Ô, diversão! Diversão também era festa junina. Na escola e em casa, festa junina de aniversário. Neguinho queimava os fundilhos pulando fogueira no quintal de terra, comia pinhão, pipoca e amendoim, dançava quadrilha e tomava quentão, que um adulto dava e outro confiscava. Cada vez que sinto cheiro de quentão (de vinho, é claro, que esse troço com cachaça na minha terra não existe), lembro da minha infância na casa do Roçado – bairro de São José, cidade vizinha de Florianópolis. Lembro do abacateiro enorme que tinha no quintal, onde a gente amarrava uma corda e se pendurava. Os irmãos me empurravam e eu parecia que ia voar. Voava mesmo, até. Qual criança não voa? Até que provem o contrário, eu voei o suficiente para dar umas três voltas ao mundo.
*no quintal de casa cada um faz o que quer. porque esse quintal é grande, do tamanho que a gente fizer. uma rede pra se balançar e balançar os pensamentos ele tem. tem um pé de limão, uma goiabeira, uma porção de plantas e flores e uns cachorros pra bagunçar o coreto. criança e adulto querendo ouvir história também sempre aparecem. e a gente conta. histórias de quintal. *
sexta-feira, 23 de março de 2007
Lembra dos bancos coloridos da pré-escola? E do parquinho? Tinha um parquinho, claro. E um menino que jogava areia nos outros colegas. Tinha uma tia, ou duas. Uma era boazinha, protegia, a outra deixava todo mundo de castigo, uma Raquel da vida. Na saída, vinha a kombi nos buscar. E aí era aquela briga: as meninas queriam ir na frente com o tio que dirigia e os guris disputavam o último banco, aquele mais alto no fundão. Todos instalados, um puxava o coro das musiquinhas que só os mais velhos entendiam (será que entendiam?) : “Entrei no ônibus / esbarrei na manivela / cobrador filho da puta / me jogou pela janela” - O que é 'filhadaputa'?, perguntava depois em casa. O engraçado é que não perguntava o que era 'manivela'. Sempre tinha um que trancava os dedos na porta da kombi. E sempre tinha um que o tio esquecia de entregar: “Ô, Cleber! Tu ainda taí? Onde é que tu moras mesmo?”. E quando a kombi estragava e o tio socava a piazada toda na Belina dele? Ô, diversão! Diversão também era festa junina. Na escola e em casa, festa junina de aniversário. Neguinho queimava os fundilhos pulando fogueira no quintal de terra, comia pinhão, pipoca e amendoim, dançava quadrilha e tomava quentão, que um adulto dava e outro confiscava. Cada vez que sinto cheiro de quentão (de vinho, é claro, que esse troço com cachaça na minha terra não existe), lembro da minha infância na casa do Roçado – bairro de São José, cidade vizinha de Florianópolis. Lembro do abacateiro enorme que tinha no quintal, onde a gente amarrava uma corda e se pendurava. Os irmãos me empurravam e eu parecia que ia voar. Voava mesmo, até. Qual criança não voa? Até que provem o contrário, eu voei o suficiente para dar umas três voltas ao mundo.
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7 comentários:
Lembro-me do cheiro de biscoito recheado d emorango que as salas do jardim de infância tinham. e qdo fui trabalhar com a gurizada de 5 e 6 anos senti o mesmo aroma. A escola para mim era o momento d aliberdade, apesar de estudar num colégio de freiras. Festa junina na escola nunca fui, qdo estava estudante. E voar... voar. Bem, sou cria de apê, então me voô era pular de um sofá para o outro ou nos balanços da escola que me custou uma meia calça branca e cortes no joelho no dia do meu anivesário de 6 anos... "Oh, que saudade que tenho da minha infância querida que os anos não trazem mais..."
Que saudade da infância o quê? Tudo piazada. Ainda cheirando a coeiro.
identifique-se, velhinho!
Essa Raquel por acaso sou eu??? Eu nunca deixei ninguém de castigo. Juro! Eu que fui deixada há uns dias atrás por um tal rinoceronte q vez por outra aparece no nosso quintal...
Não... É a irmã da Rutinha... rs
bunitinho. rs
eu lembro d eficar com dor d ecabeça na kombi, e do horror q era a merenda com sagú! acho q vc voou demais, ficou ca cabeça nas nuvens?
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