sexta-feira, 30 de março de 2007

O economista e o ornitorrinco

Um dia, eu li num livro que saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue.

Li também que vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele. Acho que li também que o reencontro é quando senta do seu lado alguém que sempre esteve dentro de você.

Será que li mesmo tudo isso? Ah, li sim. Se tava escrito eu não sei... mas eu li, ah, isso sim. Li sim.
Tenho certeza. Certeza igual a que eu tenho agora... que se eu cair dessa corda...
Não vai acontecer nada comigo! Viram? Nada. Sabem por quê? Porque essa corda não existe.
Você acreditava na corda?
Tadinho. Pobre de quem acreditava. Pobre de quem não acredita.

Agora, por exemplo, olha ali. É ele mesmo. O ornitorrinco. Tem quatro patas, um bico e dentes quando pequeno. É peludo, mas as patas dianteiras são como asas. As traseiras tem esporões venenosos. Bota ovos, choca-os e depois amamenta os filhotes. Um estudioso ousou chamar essa criatura de animal horrível, feito com pedaços de outros animais. Já um senhor mais prudente insinuou que os outros animais é que são feitos de seus pedaçoes.

E olhem lá quem vem com ele, o economista... espécie singular. Esse sim muito complexo! Dever ser matamático, historiador, estadista, filósofo. Deve entender os símbolos e falar com palavras. Deve contemplar o particular nos termos genéricos e tocar o abstrato e o concreto na mesma revoada de pensamento. Deve estudar o presente à luz do passado com objetivos futuros. Ele deve ser decidido e desinteressado com a mesma disposição; tão distante e incorruptível quanto um artista e ainda assim algumas vezes tão perto da terra quanto um político.

E vejam vocês como brincam... o economista e o ornitorrinco. Você consegue vê-los bem ali? Consegue?

Você acredita em ornitorrincos? Ou você só acredita no que vê?

Tudo bem! Você... tá vendo esse cara aqui, não tá? E só por isso você acredita nele? Ô... eu não arriscaria...

Tá, então vamos imaginar que você tem um amigo que vai embora, que vai embora amanhã. E aí, o que você faz? Você senta na frente dele, olha nos olhos dele e consegue ver o tamanho da saudade qque vai chegar? Você consegue enxergar, consegue?

Eu consigo! E é por isso que eu só acredito no que eu vejo. Porque meus olhos insistem em enxergar a palavra desenhada, a corda bamba, onitorrincos, economistas, amigo que vai embora, saudade que fica e vontade do reencontro.

Calma, calma... mas fiquem tranqüilos! Não vai acontecer nada. Essa história, assim como a corda, não existe!

Cena escrita para o amigo Amauri que seria encenada no dia de seua festa de despedida. Ele foi embora e eu não encenei. Achei os escritos passando as folhas de um caderno. Não faz muito sentido assim, em duas dimensões, mas decidi plantar de qualquer forma, vai que vira árvore, né?

5 comentários:

Mariana R disse...

nó é a cara! quase nem acreditei que era pra ele, mas era pra lele! adorei! ele tem que ao menos ler né?

Ana Silva disse...

Puxa.
Agora, eu quero ver encenada.

Lidia disse...

você acredita em economistas que criam comunidades no orkut?

Valéria Barros Nunes disse...

vc acredita em ornitorrinco?
me deu saudade d eum tempo em q os ornitorrincos andavam por aqui...

sal do blog disse...

Ai Ai
Como é bom sentir saudades
Ai Ai
Que jardim mais lindo fui encontrar
Flores raras do cerrado
Encerradas em meu coração

Pessoas lindas e muito muito muito especiais em minha vida

Raquel, eu nem sei o que dizer. Acho que seria emoção demais para mim se você tivesse encenado. Não que eu não fosse aguentar ou coisa assim, mas o baque seria bem grande, porque já foi agora, um ano e pouco depois...
Um beijo flor rara
:)