terça-feira, 15 de maio de 2007

Saudade

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.


Carlos Drummond de Andrade


9 comentários:

Caetana disse...

Foi o gatinho que soltou o pum? Ops! Comentário na postagem errada.

Lidia disse...

Deixa o Rhino se deparar com essa foto... rs rs
E vejam só como funcionou a minha bronca: ATÉ a Jaana veio contribuir!

Valéria Barros Nunes disse...

eu nunca tenho saudade, seria defeito de fábrica?

Jaana disse...

Isso é o que eu chamo de interpostalidade.

Não vou mais postar nada a noite. Contribuição mto melancólica. Xô!

Jaana disse...

Eu tb quero ter defeito de fábrica!!!!!!!!!!!!!!! Odeiooooo sentir saudades!

Anônimo disse...

Gatinho, macaquinho, abobrinha - depois querem posar de malvadas, escatológicas, lispectorantes. Tudo cherosinha, é o que são. Aliás, ainda bem!

Ana Silva disse...

Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer. Não é paráfrase do gatinho, é Barão de Itararé.

Caetana disse...

O que é ser lispectorante? Tossir Clarisses?

Jaana disse...

"Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia" CL.