Há semanas ensaio escrever. Uma história engraçada. Um conto de terror com a abobrinha que murchou na geladeira. Há meses ensaio escrever o artigo que não passa da estrutura. Idéias anotadas. Parágrafos em construção. A história não sai. O artigo não sai. As heras crescem entre as letras. Entre as palavras. Heras de novos projetos. Heras de novas e antigas urgências. Urgências minhas. Urgências dos outros e de outros. Urgências de muitos cantos de um país. De muitas vozes. De um silêncio. Urgência de um colo. De uma de noite de sono profundo. Foram se emaranhando em meu pensar. Até matear tudo no cérebro. Crescem assim desordenadas. Sufocam as conexões ainda em broto. Vão mateando perto da raiz dos vocábulos. Alastraram-se pelas derivações e encobrem as desinências. Não há o que fazer. Desaprendo a escrever o mundo e fixo um olho no oco do tempo. Analfebatizo-me para reler uns mundos mais vastos e mais urgentes que os meus. Guardo meu tempo. Mas ele foge pela fresta do oco. Fica mudo e não quer contar nada para meu urgente artigo. Artigo oco. Já passou o tempo do envio para publicação. Se ao menos publicassem artigos ocos... Pobrezinho. Murchou como a abobrinha. Duas abobrinhas. A da geladeira e a da publicação. Murchinhas.
7 comentários:
a temporada seca
a palavra seca
a menina seca
na cidade seca
seca anda a mata
mas seca não mata quem seca o mundo com palavras
funcionaou
agora q aprendi o caminho do batman, aguardem comments valiosos!
kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Abobrinha na geladeira murcha
Idéia na cabeça murcha
Abobrinha nasce todo dia na abobreira
E na cabeça tb
Jaana vai fazer texto poético. Será louvada pela banca. Ovacionada pelos acadêmicos. E ovada pelos amigos (mas lavaremos depois).
"Tenho medo de escrever. é tão perigoso. Quem tentou sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tenho medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras - quais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo".
Clarice Lispector.
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