quarta-feira, 6 de junho de 2007

uma passagem do dia mundial do meio ambiente


Ontem eu estava indo do Brasília Shopping em direção ao MEC, caminhando num passo tranqüilo de pós-almoço. Mais ou menos na altura de outro shopping center, o Conjunto Nacional, comecei a reparar nos carros e nas pessoas dentro deles. Em geral, apenas uma pessoa por carro. Suponho que algumas estivessem sentindo muita necessidade de conversar, porque, sem companhia no veículo, baixaram os vidros, gritaram e xingaram mutuamente suas mães. Carência, imagino. Outros, que não costumam abrir as janelas por conta do ar-condicionado, usaram a buzina do carro para alertar o suposto parvo motorista a sua frente sobre a mudança de cor no semáforo, do vermelho para o verde. Mas o que são alguns segundos a mais no sinal, se, dali pra frente, parariam a cada quinze metros percorridos? Tempo é dinheiro, tempo é dinheiro. E eu caminhando.

Já passando ao lado do Teatro Nacional, vejo uma menina que me parece conhecida no seu Celta vermelhinho. Acho que ela também trabalha no MEC. Olhei e sorri para ela, que, na sua indiferença, arrancou solenemente com o carro. Uns vinte passos depois, eu estava novamente ao seu lado sorrindo. Claro que não estava querendo provocá-la; não faria isso com alguém que tem uma arma de cerca de uma tonelada e a possibilidade de passar com ela por cima de mim. O fato é que a reconheci e ela, ao que parece, não me reconheceu. Caso contrário teria me oferecido uma carona, não? Continuamos nosso trajeto até o ministério, alternando as posições a cada parada que a moça tinha de fazer com seu carro. Quanto será que gastei das solas das minhas botinhas (que já têm seus oito anos)? E quanto será que ela gastou de gasolina e paciência no trânsito? Eu perguntaria isso a ela se tivéssemos chegado juntas à portaria, mas a colega ainda teve de ir à caça de uma vaga no estacionamento.


8 comentários:

Anônimo disse...

Entre o escolher e o não escolher, entre o dizer e o não dizer, tudo é escolha, tudo está dito. O silêncio sobre o texto da pequena peripatética sugere falta de argumentos. Meus, inclusive, fora o fato de ter vindo de uma cidade muuuuito mais caótica e, ainda assim, puro movimento.

Jaana disse...

Ainda bem q o celta era vermelho e não prata ;)
Vai entender essa vida louca que a gente leva e acha natural...

SINAL FECHADO - Paulinho da Viola

- Olá, como vai?
- Eu vou indo e você, tudo bem?
- Tudo bem, eu vou indo, correndo, pegar meu lugar no futuro, e você?
- Tudo bem, eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo, quem sabe?
- Quanto tempo ...
- Pois é, quanto tempo ...
- Me perdoe a pressa é a alma do nosso negócio
- Qual, não tem de quê. Eu também só ando a cem ...
- Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí,
- Pra semana, prometo, talvez nos vejamos, quem sabe?
- Quanto tempo ...
- Pois é, quanto tempo ...
- Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas
- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança
- Por favor telefone, eu preciso beber alguma coisa, rapidamente,
- Pra semana ...
- O sinal ...
- Eu procuro você
- Vai abrir, vai abrir
- Prometo, não esqueço
- Por favor, não esqueça, não esqueça
- Adeus.

Anônimo disse...

Oi Lidia,
Td bem?
Se precisar de carona me liga ou me escreve pra gente combinar: evaluna_sp@yahoo.com.br

Eu saio 8h30 da manhã, se vc entrar às 9h no MEC acho que dá pra gente combinar.

Ahn! É a segunda vez que eu visito aqui, os posts estao ótimos!
Linquei vocês.

Beijos,
Amanda

Valéria Barros Nunes disse...

vida cruel esta, não?

me flagro pensando neste ser q nos tornamos, com nossas toneladas e nossa possibilidade de passar por cima de tudo, indiferentes à escolhas patéticas que fazemos e gritamos ao caminhante.

Qdo for almoçar no shopping me chama. Adoro andar com vc.

Esperando Godot... disse...

Boa oportunidade para eu contar que estou me preparando para ficar sem carro, ou melhor, para viver sem o meu próprio carro. Usarei em algum tempo apenas os carros alheios. E quando não der, caminharei... acredito que caminharei bastante na cidade caótica da onde veio nosso rhino.

Valéria Barros Nunes disse...

Olha, que coisa mais linda que coisa ... que passa...

conte com minha carona...
adoro dar!

Iaçonara disse...

Eis que ponho "meio ambiente" e na primeira página da pesquisa está o "quintal de casa" e a fotinha de minha amiga candanga. Por ter passado quatro secas e algumas florações de ipês por aí, pude refazer o percurso imaginariamente com a caminhante "poivre et sel". Lembrei-me do que as "guardetes" do MEC me diziam quando eu saía já perguntando:"Alguém quer carona até a rodoviária?". Uma me olhavam meio adimiradas, sem acreditarem na oferta; outras resistiam um pouquinho se não me conheciam, mas como outras entravam no carro, desabafavam dizendo que muita gente não gosta de dar carona. Várias já se fidelizavam e quando me viam saindo, já perguntavam: "Vai pra rodoviária, professora?" Eu, sempre procurando um papo, obviamente que respondia positivamente. Algumas delas, só querendo apressar o retorno a suas casas; outras, além disso, proseavam a cada paradinha de um carro atrás do outro, sedentas de interlocução também.
Enquanto "caminhava" com a produtora do texto, fiquei pensanso como estariam os pés de pata de vaca perto da Fundação Athos Bulcão e adjacências. Floridos? e o ipê na esquina do Anexo do MEC? Será que a motorista no seu possante além de não ter visto nossa simpática caminhante viu alguma outra coisa que não as traseiras dos carros a sua frente. Eu juro que veria o seu sorriso, amiga. Beijos! Saudades dos mequetrefes.

Iaçonara disse...

Eis que ponho "meio ambiente" e na primeira página da pesquisa está o "quintal de casa" e a fotinha de minha amiga candanga. Por ter passado quatro secas e algumas florações de ipês por aí, pude refazer o percurso imaginariamente com a caminhante "poivre et sel". Lembrei-me do que as "guardetes" do MEC me diziam quando eu saía já perguntando:"Alguém quer carona até a rodoviária?". Umas me olhavam meio adimiradas, sem acreditarem na oferta; outras resistiam um pouquinho se não me conheciam, mas como outras entravam no carro, desabafavam dizendo que muita gente não gosta de dar carona. Várias já se fidelizavam e, quando me viam saindo, já perguntavam: "Vai pra rodoviária, professora?" Eu, sempre procurando um papo, obviamente que respondia positivamente. Algumas delas, só querendo apressar o retorno a suas casas; outras, além disso, proseavam a cada paradinha de um carro atrás do outro, sedentas de interlocução também.
Enquanto "caminhava" com a produtora do texto, fiquei pensando como estariam os pés de pata de vaca perto da Fundação Athos Bulcão e adjacências. Floridos? E o ipê na esquina do Anexo do MEC? Será que a motorista no seu possante, além de não ter visto nossa simpática caminhante, viu alguma outra coisa que não as traseiras dos carros a sua frente? Eu juro que veria o seu sorriso, amiga. Ele me acolheu. Beijos! Saudades dos mequetrefes.