segunda-feira, 16 de abril de 2007

Tentativa

Um homem caminhava sozinho pelas ruas do centro da cidade, sujo e com barba por fazer; as roupas gastas, mas sem rasgos ou remendos. Andava devagar, pensativo. Imaginava uma forma de arranjar mulher. Talvez ir a algum hotelzinho nos arredores da estação ferroviária ou, quem sabe, dar uns apertos, só para desafogar, ali mesmo, nos bancos da praça central, escondido pelos arbustos. Poderia ir até a outra praça, a da Igreja Matriz, que estava em reforma, cuja rua frontal transformara-se em passarela de prostitutas e travestis à procura de clientes. Mas não lhe agradava a idéia de pagar por uma mulher. Possuía dinheiro suficiente, mas preferia gastá-lo com bebida. Uma prostituta não fazia parte de seus planos. Resolveu caminhar mais.

Estava naquela cidade havia duas semanas e já se familiarizara com as ruas centrais. Hospedara-se em um hotel pequeno e muito sujo nas proximidades do terminal rodoviário e só ficava lá durante o dia, dormindo. À tardinha, saía para comprar cigarros e andar pela cidade. Voltava só pela manhã, depois de haver perambulado durante toda a noite. Nessa última tarde, não conseguira dormir. Sentia-se extremamente excitado. Precisava de mulher. Decidiu que à noite procuraria por uma.

Começou sua caminhada dessa noite pela rodoviária, mas logo se decepcionou, pois àquela hora só havia a turba de passageiros chegando e saindo da cidade. Mudou o trajeto. Foi parar perto da estação ferroviária, onde conheceu os hotéis que abrigavam casais de última hora para sexo rápido e pago. Viu que não conseguiria nada por aquelas bandas. Saiu dali e entrou em uma avenida arborizada e um pouco escura. Duas quadras acima, deparou-se com uma esquina mais iluminada, com semáforo, onde, à esquerda, erguia-se o prédio da faculdade católica. Tomava todo o quarteirão e era bastante irregular. Parecia ter sido construído aos poucos, cada parte ostentando arquitetura e idade distintas. Do lado oposto, várias lanchonetes, com mesas e cadeiras distribuídas pela calçada, apinhadas de jovens bebendo cerveja e refrigerante. Dirigiu-se a um dos bares e pediu uma cerveja ao garçom, um rapazinho magro que exibia sorridente sua intimidade com os freqüentadores.

Observou as moças que passavam. Calças apertadas e saias curtas, com pernas à mostra. Pensou que se estivesse limpo e barbeado poderia entabular conversa com alguma delas. Bobagem. Universitárias não lhe dariam atenção. Gostavam de se mostrar cultas e inteligentes e falavam demais. Melhor seria dar o fora daquele lugar. Aproveitando-se da distração do garçom, entretido numa conversa com os estudantes, levantou-se sem pagar a bebida e desapareceu na esquina.

Caminhava já desanimado pelo centro da cidade. Mais uma noite por aqui, pensava. Sem ter rumo certo, acabou voltando para os lados da faculdade. Passou pelo lado oposto ao dos bares e ainda viu os últimos estudantes deixando o prédio, que fechava os portões e se quedava silencioso e escuro. Novamente na rua dos hotéis, imaginou abordar alguma mulher e, em último caso, pagá-la.
Na parte escura da avenida, viu uma mendiga caída, completamente bêbada, emitindo sons ininteligíveis. Sem que ela protestasse, ergueu-a e fez com que apoiasse um dos braços em torno do seu pescoço. Virando a esquina, caminharam pela rua da estação, que terminava em um beco ermo e escuro, onde ele a soltou. Olhou-a demoradamente, indeciso ante desejo e repugnância. A mulher, caída ao chão, perguntou-lhe se tinha dinheiro.

Uma hora depois, algumas quadras adiante, no único bar aberto que avistou, pensava nos palavrões que a mulher lhe gritara e no cheiro ainda impregnado em suas roupas. Decidiu que um banho seria bom. Pediu uma dose de cachaça, bebeu-a de um gole e saiu. Voltou ao hotel onde se hospedara e ao se despir resolveu que no dia seguinte telefonaria aos homens que lhe arranjavam trabalho. Sempre tinham algum serviço para ele. Não era bom ficar muito tempo em um só lugar.

5 comentários:

Lidia disse...

Soturno, não? Ele entra e sai sem que saibamos de nada...

Ana Silva disse...

Não queira saber de nada, não se aproxime. É um marginal. E toma pouco banho.

Mariana R disse...

e c de b...não tem d...

Carpe Diem disse...

silvio de abreu e gilberto braga que se cuidem!!

Carpe Diem disse...

ruas desérticas, um desejo, um delito e vida normal...