sexta-feira, 20 de abril de 2007

Queria escrever um conto de terror




Uma vó, sua mãe, uma tia. As outras não reconhece. Elas falam coisas desconexas, palavras e mais palavras que não lhe dizem nada. Continua parada, no entanto, escutando e começa a lembrar de como aquilo teve início.


Conversavam num bar, ela e as amigas, sobre a dificuldade de escrever contos de terror. Julgavam complicado não parecer ridículo ou piegas um texto que tentasse retratar medo, sofrimento e outras coisas do gênero. Como era de costume, falaram e riram durante horas, até uma delas sugerir que fossem embora. No dia seguinte todas trabalhariam.

Ela seguiu sozinha para casa, que ficava a duas quadras do bar. Foi caminhando distraidamente, pensando que seria mais fácil escrever algo se um fato horripilante acontecesse em frente aos seus olhos (claro, não precisava acontecer com ela). Talvez um acontecimento sobrenatural, xícaras flutuando, portas batendo – sim, isso seria um bom mote, pensava a nossa personagem.

A sexta-feira transcorreu normalmente. No trabalho, o mesmo ritmo de sempre e, fora dois ou três telefonemas recebidos de algum engraçadinho que só queria ouvir sua voz, nenhuma reclamação a fazer. Saiu às 18h30 e foi para a aula de natação. Continuou imaginando coisas que poderiam acontecer para despertar sua escrita de terror: alguém se afogando na piscina, gritando que está sendo puxado... Mas o grito que ela ouviu foi o do professor – não queria ver ninguém parado na água.

Sábado. Mais um dia e nenhum parágrafo no papel. Resolveu dar uma volta de bicicleta – talvez um pneu furado a fizesse parar em frente a uma casa estranha, com movimentos e barulhos estranhos de pessoas estranhas... Estava ficando tensa por não ter o que escrever. Estranho isso. Pedalou até o parque da cidade e parou para tomar uma água de coco. Rapazes jogavam futevôlei, meninas patinavam e crianças brincavam nos carrinhos-de-choque. Nada de terrível poderia acontecer num cenário desses.

Ficou até anoitecer no parque, pedalando entre outras tantas pessoas. No caminho para casa, passou pela parte mais vazia do parque, uma vasta área onde haviam pinheiros enormes. Um desses pinheiros bem que poderia cair, imaginava ela. Mas não, o que aconteceu foi que seu pneu furou. Foi. E escureceu totalmente. E começou a ventar forte. Algo amedrontador, enfim. Parada por um minuto pensando no que faria, baixou e levantou os olhos algumas vezes. Foi então que viu: a vó, a mãe, a tia e outras mulheres.


Uau, está vendo pessoas mortas. Agora sim vai ter o que escrever. Pensa nas amigas lendo seu assombroso texto povoado de mulheres mortas que a cercam num parque. E é isso que ocorre. As criaturas fazem um círculo ao redor dela – que organização! Será que farão uma ciranda? Elas falam coisas desconexas, palavras e mais palavras que não lhe dizem nada. Continua parada, no entanto, escutando. Queria ter papel, caneta e um pouco mais de medo nessa hora. Queria correr, tropeçar num galho, cair e ser arrastada pelas fantasmas, mas não, continua parada.

Percebe, depois de um bom tempo, que ainda está parada. As mulheres não estão mais em volta dela e ela ainda está parada. Olha para seus pés. Onde estão? Não os vê, o que vê é um carro estacionando próximo a ela. Adolescentes bebendo e cantando. Uma das meninas começa a tirar a roupa e os rapazes jogam seu corpo entorpecido no capô do carro. Não têm vergonha de fazer isso na frente dela? Não há muita luz, mas não acredita que não a estejam vendo. Um deles vem em sua direção. Sente-se petrificada de medo (agora só precisaria do papel e da caneta)... Ele está urinando? Ele está mijando nela?! Está.

Então ela entende. E só lamenta não poder escrever essa história.


p.s. Todo mundo resolveu escrever hoje... rs rs rs

6 comentários:

Caetana disse...

Ui que medo. Ela virará papel no futuro. Isso que dá parar depedalar e criar celulose. kkkkkkkkkk

Caetana disse...

Agora ela só vai precisar da caneta, mas não ver ter mãos para escrever kkkkkkkkkkkkkkk

Anônimo disse...

Um legítimo Terrir da minha lindinha

Mariana R disse...

estranho. gostei.

Ana Silva disse...

As mulheres mortas é que estavam com medo dela.

Mariana R disse...

kkkkkkkkkkkk