sexta-feira, 20 de abril de 2007

PROVAS DA INEXISTÊNCIA

É. Já decidi. Eu realmente não existo. Mandei mensagem para um amigo. Telefonei. Mandei mensagem de novo. Sem resposta. Telefone sempre na caixa de mensagens. Eu nunca deixo mensagens de voz. Gosto dos textos. Não gosto da voz. Há uns dias ele me mandou uma mensagem texto perguntando onde eu estava. Estávamos em estados diferentes. Como sempre. Ele concreto e eu etérea ou vice versa. Já descobri que às vezes eu líquido e ele volátil. Mas a gente já se encontrou. Mas agora não tenho mais certeza se a gente existe. Aliás, não tenho certeza se ele existe. Pois, conforme disse, tenho certeza de que não existo. Alguém precisa de provas de que não existo? Tenho certeza mais do que absoluta de que não. Mas não vou agüentar a vontade de enumerar algumas provas de minha inexistência.
1) Esse texto não existe (bem como, textos anteriores não existiram). Sua imaginação anda lhe pregando peças e você acha que está lendo. Se tentar reler, vai descobrir que o que pensou ter lido não está mais lá. Aliás, isso tem acontecido sistematicamente comigo. Sempre que tento reler, o texto não está mais lá. Já é outro. Eu sou outra. O autor já me parece outro. Então, acho que eles também não existem. Autores e textos não existem. Opinião controversa. Uma vez que afirmativa vem de uma fonte não confiável, ou melhor, inexistente.
2) Eu não apareço em fotos. Alguns afirmam que já viram fotos minhas. Não é verdade. Se olharem bem, verão que a pessoa da foto não existe mais. Aliás, as pessoas das fotos nunca existem de fato. Deixaram de existir alguns milésimos de segundo depois de capturada da imagem. Nunca vi um retrato meu.
3) Ninguém nunca me ouviu. Pelas mesmas razões que nunca me viram. Há um tempo resolvi representar alguns papéis para que as pessoas tivessem a impressão de que existo. Mas, de fato, eram apenas personagens. Um monte deles. Alguns são interessantes e vez ou outra resolvo reapresentá-los. Já até consegui enganar alguns amantes, que juram que já treparam comigo. Impossível. Pura imaginação deles. De verdade devem ter transado uma idéia... Transas não existem. Pelo mesmo motivo da inexistência de autores, textos e passados. Idéias também não existem. Nem final para essa p(b)ostagem....
Reticências existem. Conheci várias delas. Todas muito minhas amigas. Também os ornitorrincos. Quanto aos economistas tenho lá minhas dúvidas...

4 comentários:

Lidia disse...

Reticências, tudo bem, mas ornitorrincos e caetanas... nunca vi!

Mariana R disse...

agora sim, é científico. eu não existo, tu não exite, eles não existem... mas e os sapos? existem?

Esperando Godot... disse...

Comprovado! A inexistência existe!

Caetana disse...

Os sapos existem, a inexistência existe. A insultentável leveza do não ser.....