sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

De viva voz a Gerardo Diego

Mas que vou dizer da Poesia? Que vou dizer dessas nuvens, desse céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da Poesia. Isso deixa-se aos críticos e professores. Mas nem tu nem eu nem nenhum poeta sabemos o que é a Poesia.
Aqui está: olha. Eu tenho o fogo em minhas mãos. Eu o entendo e trabalho com ele perfeitamente, mas não posso falar dele sem literatura. Eu compreendo todas as poéticas; poderia falar delas se não mudasse de opinião a cada cinco minutos. Não sei. Pode ser que algum dia eu goste muitíssimo da má poesia, como gosto (gostamos) hoje da má música com loucura. Queimarei o Partenão à noite, para começar a levantá-lo de manhã e não terminá-lo nunca.
Em minhas conferências, tenho falado às vezes da Poesia, mas da única coisa que não posso falar é da minha poesia. E não porque seja inconsciente do que faço. Ao contrário, se é verdade que sou poeta pela graça de Deus - ou do demônio -, também o é que o sou graças à técnica e ao esforço e de dar-me conta em absoluto do que é um poema.
Federico García Lorca