quinta-feira, 7 de abril de 2011

Amo Amar

Amo amar o amado, o amor,
o ser, o desejo, a coragem,
o sonho amoroso,
a possibilidade, a potencialidade,
a perseverança, o por vir, o amanhã.

Amo amar esse quadro emoldurado
da natureza na porta de casa com
aroma de café fresco.
Amo amar esse cantar dos pássaros no
amanhecer e entardecer das primaveras.
Amo amar o florescer das vermelhas tulipas
nos jardins verdes da ilha do norte.
Amo amar o som bravio das brancas ondas
dos mares azuis da ilha do sul.

Amo amar o pescador, sua rede,
o pai e anedotas.
Amo amar o conforto e o salgado da mãe,
e a filosofia e a doçura da irmã.
Amo amar a delicadeza e sensibilidade
das gatas. patas, lambidas e miados.
Amo amar os encontros e abraços
dos irmãos escolhidos.

Amo amar seu sorriso e seu olhar
espelhado de amor, cumplicidade e proteção.
Amo amar sua voz dizendo as coisas
mais certas e certeiras.
Amo amar-te com todos os clichês de
música e com saudades.

Amo amar tua vida na minha
e o retrato 3x4 da felicidade
guardado no bolso do meu
coração hilariante.


CD
06/04/2011
18h24 e 23h57
Lewes - East Sussex/UK

3 comentários:

Valéria Barros Nunes disse...

já comentei e registro aqui também:
Gostei, tem ritmo, rima, imagens, cheiros, textura, constância, contraste, variação, cadência.
quero ver a Lídia contestar!

Lidia disse...

Acho que tem memória. Memória de todos os sentidos - por isso percebemos "imagens, cheiros, textura". Me lembrou Drummond:

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Valéria Barros Nunes disse...

poizé, poesia é isso: impacto na memória. o que pode a criatura senão escrever? revelar o que pensa, o que sente, o que percebe. como podem as pessoas ainda pensarem em amar depois do holocausto, enquanto o mundo se envolve em tragédias? o q podemos comunicar para pessoas que só consomem produtos e a si? que silêncios podemos provocar para q amor grite e nós? A poesia, inútil no sentido industrial, despreocupada com o lucro, é que nos põe açúcar no pão de todo dia.