sábado, 12 de janeiro de 2008

De novo

Acabou, está acabando.
Família, amigos, Campão. A cidade está linda, talvez não saia nunca mais daqui. Morrerei velhinha, andando pelas calçadas sujas do centro e reclamando do trânsito. Mas as calçadas são limpas, e o trânsito, muito melhor que o de vários lugares por onde andei. Dirijo pelas ruas e vejo que são pequenas, pequena é a cidade, pequenina Campo Grande. Era enorme, antes.
As cidades são como os sonhos, e sonhos, sonhos são. Por mais intrincados que sejam seus caminhos, quem sonha sabe aonde vão dar. Mas isso é plágio de Calvino, misturado com letra de Chico. Música de Tom é casa de Oscar; poema de Chico é casa minha.
Amanhã, os amigos fazem festa. Despedida pra mim. De novo. Despedida de Brasília, despedida de Campo Grande. Outra festa pra eu rir, outra festa pra eu chorar, outra festa pra eu me embriagar. Embebedar-me de amigos, para vê-los partindo, um a um, da casa, do bar, sem saber quando e se vou encontrá-los de novo. Sentir os mesmos cheiros, ouvir as mesmas vozes, rir das mesmas piadas batidas, discutir as mesmas divergências insolúveis, fazer as mesmas chacotas, chamar pelos apelidos, abraçar emocionadamente, fingindo que não é nada, não é nada, não é nada, não sou piegas, não vou chorar. E para que me vejam partir. Hora de ir embora, quando o corpo quer ficar. Chico de novo, nada original. Eu, não ele.
E lá, do outro lado do mundo, do lado de lá da montanha, que a gente não conhece, por isso deseja, a cidade nova que me espera. Eu a espero. Um amor novo, que não deu certo. Amores dão certo? Um outro e novo amor, que desejo dê certo. Amores dão certo? Ele escreveu, ele escreveu. Escreverá amanhã? Ele telefonou, telefonará depois? Não sei, é outro, é novo, muito novo, talvez dê certo. Amores dão certo? Será diferente do anterior, tão recente, tão infeliz? Será. Amores dão certo.
Tenho de escrever. O conto do aeroporto. A crônica do beco de Natal. Um artigo científico. A edição de um livro cujo prazo expira breve. Um medo, de novo, medo velho, de modo novo. Já não sei o que penso, não sei o que escrevo, não sou de escrever assim. Amanhã, apago esta porcaria.
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Direto de Campo Grande para o Quintal. Também está no meu blogfúndio, claro.

5 comentários:

Anônimo disse...

Que mané apagar o que!
como bem disseram, o mar, a brisa, o sol, a cervejinha na beira mar, os moçoilos... estão lhe fazendo muito bem!
Ai... que saudade do mar!

Esperando Godot... disse...

Uma vez plantado, jamais apagado... E aí, amores dão certo?

Caetana disse...

Amores? Se existem eu não sei. Mas que dão certo, dão certo, dão errado. O importante é que dão. Ai que bom!

Esperando Godot... disse...

É melhor ainda quando dão bom!

Mariana R disse...

essa cródia é uma graçinha! (diria a hebe, rs.)