quinta-feira, 4 de novembro de 2010

da Jaana

Versos à boca da noite

Carlos Drummond de Andrade

(...)"Mas vêm o tempo e a idéia de passado
visitar-te na curva de um jardim.
Vem a recordação, e te penetra
dentro de um cinema, subitamente.
E as memórias escorrem do pescoço,

do paletó, da guerra, do arco-íris;
enroscam-se no sono e te perseguem,
à busca de pupila que as reflita.
E depois das memórias vem o tempo

trazer novo sortimento de memórias,
até que, fatigado, te recuses
e não saibas se a vida é ou foi"
(…)

As memórias, por algum motivo, voltaram e tomaram-me por completo. Mas não parecem memórias. É como se fossem vida vivida pela primeira vez. Não sei onde estava quando a minha vida aconteceu. Parte das memórias, por algum motivo, mandou-me olhar o nome de quem me escreveu nos últimos tempos, o nome de quem não me respondeu, os nomes. Somente hoje. Mais de um ano e somente agora a minha memória conseguiu me falar. Voltar a alguns emails do passado recente é como vivê-los pela primeira vez. Parece impossível que algumas constatações sejam tão óbvias. Senti falta de dois nomes no quintal, que quase nunca visitei, e agora percebo que nunca deveria ter sentido falta de duas pessoas. Isso me ajudou a entender outras coisas. Mas ainda tenho tantas dúvidas. As respostas aparentemente me foram dadas, palavra porpalavra, mas eu não escutei. Verdadeiras? Os diálogos ilógicos e absurdos tinham uma lógica que me fugia. De tanto revivê-los às vezes tenho dúvidas de quais aconteceram ou não. Algumas verdades ainda parecem parte da “encenação para me ajudar”. Verdades? O cansaço mental e físico que me tomou por completo no passado voltou. Mas desta vez não consegui fugir de pensar. Desculpei a quem nunca deveria ter desculpado (!?). Nunca pedi desculpas a quem deveria ter pedido (!?). Mais de um ano sem pensar nesse passado e ele voltou com tanta força. Agora, ainda tantas dúvidas. Umas poucas certezas. Mas pelo menos as minhas memórias vieram conversar comigo.

Um comentário:

Valéria Barros Nunes disse...

Ha! já aconeceu comigo! Vinha eu, distraída, cuidando da vida, quando me desabaram lembranças na cabeça. O pior: não sabia se tinha sonhado ou vivido as coisas, e fui lembrando, lembrando... passei dias assim, um gesto de alguém me lembrava outrem, um som me fazia lembrar intensamente de algo q se passou... fiquei um tempo mergulhada em incertezas q a memória me pregava. Acho q eram os hormônios brincando d eserem neurônios. Depois, passou. Era uma fase normal do meu desenvolvimento, do amadurecimento. estava tudo descrito nos anais de psicologia. Hoje sei q esqueci tudo, o q fiz e o q deveria ter feito. Não sou mais mental, mas ainda me sinto fundamental.