A escrita é talvez a mais dolorosa tarefa solicitada aos estudantes nas suas formações profissionais. Particularmene, posso afirmar isso por ter sempre solicitado aos meus alunos que registrassem algo por escrito e, como retorno, ouvido gemidos, bufadas e interjeições diversas. Muito dificilmente consegui escapar dos protestos, dos pedidos de cancelamento, de adiamento de prazos de entrega, das milhares de confirmações se era para fazer mesmo e até das lágrimas. Como trabalhei basicamente em licenciaturas e cursos de pedagogia, não tive pudor de "subir nas tamancas " e "fazer uma cena" cada uma das trocentas vezes que recebi protestos contra a obrigação de escrever. Minha pergunta ainda é: como podemos formar cidadãos alfabetizados se nós mesmos, educadores, não formos pessoas que escrevem? Que professores somos nós, se não escrevemos? PPode parecer ingênuo, mas continuo acreditando que todos temos que ter momentos de escrita e reflexão sobre como escrever mais e escrever melhor. Para mim, é um ato de cidadania.
Entretanto, o problema maior é encontrar algo sobre o que escrever. Algo que seja significativo e relevante. A escrita exige muito exercício e assunto.
Minha sugestão tem sido a de se exercitar a escrita pela autobiografia. Primeiramente por ser o único texto realmente autêntico que podemos escrever - não há ainda como alguém copiar a própria vida. Depois, porque é um exercício rico em possibilidades didáticas. Da autobiografia pode se derivar o memorial, exigido na academia; pode virar conteúdo de disciplinas na escola, pois permite aos professores conheceram memlhor seus alunos (faixa etária, origem, trajetória escolar, situação econômica, realções sociasi, sonhos , angustias, desejos, crenças etc.).
A leitura de autobiografias em sala de aula tem o efeito de tornar os colegas mais próximos. Os estudantes percebem que convivem com estranhos, ao mesmo tempo em que têm muita coisa em comum. A leitura coletiva, devolvida para as turmas com ou sem identificação dos autores - conforme eles escolherem, proporciona o entendimento de que a turma forma uma amostra da sociedade. Dos dados fornecidos pelas autobiografias podemos inferir situações e conjecturas nacionais e internacionais. Ao perceber o grupo como um todo, podemos entender o movimento das pessoas em busca de mais e melhor educação. Enfim a escrita da autobiografia é um processo que encoraja os estudantes a se conhecerem e se inserirem melhor nos grupos em que convivem.
O conteúdo das autobiografias são a "bagagem" que os estudantes naturalmente trazem para a escola. Com elas já trabalhei: estatísticas, mapas, revisão histórica, concepções de educação, história do brasil, uso da linguagem, as facilidades e dificuldades para produção de escrita, tipos de escolarização e muitos outros temas.
Você já tentou escrever sua autobiografia? Essa é minha sugestão para o próximo feriado.
Me mostra a tua, que eu te mostro a minha!
4 comentários:
uau! Quanta irreverência no óbvio! Ameising! Fiquei com vontade de tentar! Bjim
tente, invente e mostra pra gente!
irreverência no óbvio é elogio ou crítica?
Quanto dei aulas nos últimos anos do Fundamental - parcos seis meses de substituição - depois de explicar vagamente as definições de narração, dissertação e descrição, pedi aos alunos que fizessem uma breve descrição física de uma pessoa de quem gostassem (amigo, parente, vizinho, celebridade). A certa altura, um aluno perguntou como se escrevia sobrancelha, palavra que escrevi na lousa para que todos vissem a grafia correta. Um terço das redações me descreveu, o que muito me lisonjeou. Metade dos alunos descreveu a sobrancelha de alguém. Percebi que não tinham ideia sobre o que descrever porque raramente lhes era pedido que pensassem nas características das pessoas, das coisas e das situações, tampouco que expressassem o que pensavam sobre pessoas, situações e coisas.
Pois é, se não fosse por vc eles teriam crescido achando que não sabiam escrever nadica d enada. agora já sabem descrever uma bela mulher, né?
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